sexta-feira, 15 de junho de 2012

Um Belo Poema

Amadeu Thiago de Mello foi um poeta brasileiro de grande relevância para a literatura reflexiva que nos deixa em contatos com a gente mesmo e também nos encanta e inspira a que distribuamos um pouco de tudo de bom e especial que vamos adquirindo em nós mesmos com os seus escritos, com os nossos outros amigos e parceiros de lutas pela vida afora. Amazonense de naturalidade, esse poeta é um dos mais repeitados e influentes no nosso país, sendo reconhecido e amado como um verdadeiro ícone da literatura brasileira. O acervo desse poeta/escritor é traduzido em mais de trinta idiomas. Sua história política é a de um autêntico brasileiro, envolvido com a luta por uma cidadania ativa e um regime democrático e de prestigio, que possibilite melhores condições de vida para a população econômicamente vulnerável, com justiça social e direitos humanos, sendo seu engajamento nas questões das lutas sociais bastante comprometidas como um verdadeiro ativista e a sua trajetória de vida culminando em sua prisão durante e ditadura militar no período de 1964-1985. Exilou-se no Chile e lá estabeleceu um contato bastante íntimo e produtivo com outro grande poeta, também comprometido com as questões políticas do seu país e do seu povo, o Pablo Neruda, de modo que ambos foram se ajudando mutuamente e um fazia a tradução da obra do outro e cada vez mais com o passar dos tempos foram se afinando, vindo o Neruda a escrever um ensaio sobre sua vida. Quando esteve no exílio ele também morou na Argentina, em Portugal, no Chile e na França e também na Alemanha. Terminando o regime militar ele voltou ao Brasil, e à sua cidade natal. Nesse seu Poema “Os Estatutos do Homem”, ele busca chamar a atenção dos seus leitores para os valores simples da natureza humana, tentando mostrar que se esses valores forem observados e reconhecidos e integralizados no viver de cada um, os indivíduos terão muito mais constâncias naquilo que procuram para pautar seu viver, contribuindo muito mais para o bem comum. E ai, ele também procura dar visibilidade aos seus pensamentos sobre a vida e uma forma de vida coletiva que seja satisfatória para todos os indivíduos. (Consulta feita no portal wikipedia.org/wiki/thiago_de_mello) ESTATUTO DO HOMEM (Ato Institucional Permanente) Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade. agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira. Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo. Artigo III Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. Artigo IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino. Artigo V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa. Artigo VI Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo. Artigo VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor. Artigo IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que, sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura. Artigo X Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, o uso do traje branco. Artigo XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã. Artigo XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor. Artigo XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou. Artigo Final. Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem. (Thiago de Mello)

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