DIAGNÓSTICO SOBRE PREVENÇÃO, ASSISTÊNCIA, CUIDADO E APOIOS RELACIONADOS ÀS DST, AIDS E TUBERCULOSE EM PERNAMBUCO.
A Rede
Nacional de Pessoas Vivendo com HIV– Núcleo Pernambuco - RNP/+PE, criada em
1996 tem por objetivo promover o fortalecimento das Pessoas Vivendo com HIV,
independente de gênero, orientação sexual, credo, raça, cor ou etnia e
nacionalidade, A RNP+PE com o apoio da ONG GESTOS – Soropositividade, Comunicação
e Gênero vêm através deste denunciar a atual situação dos serviços de
prevenção, assistência, cuidados e apoio relacionados às DST, AIDS e
Tuberculose no estado de Pernambuco.
A RNP+ PE
construiu este documento a partir de discussões entre as pessoas soropositivas
da própria rede e usuários/as do serviço entre fevereiro e março de 2014.
1. Sobre
Prevenção e Testagem para HIV:
As ações e campanhas governamentais de prevenção,
no âmbito estadual, ocorrem apenas no período de carnaval e São João e são
dirigidas à população em geral. As ações para populações de maior
vulnerabilidade para o HIV, como por exemplo, para profissionais do sexo,
travestis e transexuais, gays, usuário/as de drogas, e pessoas em situação de
rua ocorrem basicamente através das ações de organizações da sociedade civil
(ONGs)
As campanhas realizadas no serviço de saúde
acontecem de forma pontual em alguns e principalmente em 1º de Dezembro;
Em junho de 2005 diagnosticamos dificuldades no
acesso e promoção dos preservativos masculinos e femininos. Após nove anos,
continuamos com uma grande lacuna no acesso e promoção do preservativo feminino
entre mulheres no estado. Faltam ações educativas, campanhas de divulgação do
preservativo feminino e principalmente campanhas de prevenção de DST, AIDS e
Hepatites Virais para mulheres, travestis e transexuais;
Em vários municípios a distribuição de
preservativos não acontece nas unidades de Saúde. Nos municípios que tem
CTA/COAS a distribuição é centralizada através de cadastramento. Dessa maneira,
a população que reside na área rural tem dificuldades financeiras e de
locomoção para chegar ao CTA/COAS, ficando sem acesso aos preservativos;
Importante ressaltar que os processos das ações de
prevenção caminham igualmente deficitários, pois faltam ações governamentais,
sejam nas áreas (Estadual e Municipais) bem como o déficit de ações de
prevenção e assistência em parcerias com as ONGs e Redes.
Depoimentos
de usuário/as sobre o acesso e promoção do preservativo:
R:
“Sim, sentimos falta do preservativo. Temos dificuldades de adquirir
preservativos e outros insumos de prevenção. Só na ONG temos acesso aos
preservativos e lubrificantes principalmente o preservativo feminino. As ações
do governo com relação à prevenção ficam a dever, principalmente para as
travestis e transexuais”.
P: “O
governo tem que aumentar a distribuição porque sempre falta principalmente o de
mulher (preservativo feminino)”.
V: “Nos
hospitais de referência há muita burocracia para pegar preservativos, pedem
meus documentos. Uma vez me mandaram falar com a assistente social do hospital.
Acho que a camisinha falta muito, assim não há como prevenir”.
Sobre a
testagem para o HIV, defendemos a ampliação e que todos e todas devem ter
acesso ao teste. Mas da mesma forma devem ter acesso a um aconselhamento e
assistência adequados uma vez que sabem do positivo para HIV. O acolhimento e o
aconselhamento após o teste não é condizente com o Projeto de humanização que o
SUS preconiza.
Recentemente
foi inaugurado um ônibus para testagem em locais de difícil acesso, eventos e
interior no estado, mas não foi contratada uma equipe multidisciplinar para
trabalhar no projeto. O estado está utilizando a equipe de outra ação para
trabalhar no ônibus.
Temos
recebido informações constantes sobre quebra de sigilo por parte de Agentes
Comunitários de Saúde e outros profissionais na entrega do resultado, violando
os preceitos éticos da dignidade humana. Apesar das capacitações já
feitas sobre o tema, que outras medidas de monitoramento serão tomadas para que
isso pare de acontecer em PE?
De acordo com
a nova estratégia do Ministério da Saúde “Testar e Tratar” nos preocupa o fato
de que essa estratégia preconiza que as pessoas testadas positivamente sejam
atendidas e acolhidas na atenção básica onde gestores não estão respeitando os
princípios de Universalidade e Integralidade do SUS, continuam com
atitudes preconceituosas, alimentando o estigmas e discriminação das
Pessoas Vivendo com HIV. Como, ter um atendimento digno, com qualidade e eficaz
sem qualificar o serviço e enfrentar efetivamente o preconceito nos serviços de
saúde?
Sobre a
testagem em ONGs consideramos que o momento da revelação sorológica é de
extrema importância para a adesão ao tratamento bem como para minimizar os
possíveis efeitos psicológicos do resultado. Por isso defendemos que todo
processo de testagem deve ser efetuado com garantia de acompanhamento
profissional de qualidade e, sobretudo garantia de rápido ingresso no sistema
de saúde e de retaguarda para efetivo tratamento posterior. A atual estratégia
do MS de realização da testagem por ONGs, utilizando profissionais não
condizentes com esta prestação de serviços, configura flagrante desvio de
função e precarização das relações de trabalho, pois utiliza mão de obra
voluntária ou remunerada abaixo dos pisos das categorias, para um serviço que
deve ser exercido por profissionais habilitados e garantido pelo Estado. Este
entendimento é reforçado pela ANAIDS - Articulação Nacional de Luta Contra AIDS
e esta alinhada com as deliberações do XVII Encontro Nacional de ONG/AIDS –
ENONG/2013, realizado na cidade de Salvador/BA em novembro de 2013, onde se
decidiu pela não adesão das ONGS a esta estratégia e pela defesa do SUS
integral com valorização profissional e qualidade nos atendimentos.
Assim
demandamos que em Pernambuco ofertar e garantir o teste rápido para o HIV deve
ser exclusivamente ação dos serviços de saúde, garantindo o pré e pós-
aconselhamento qualificados (para Gestão Municipal e Estadual), com abordagem
sobre gestão de riscos, uso de novas tecnologias e autonomia responsável das
pessoas, incluindo casais sorodiscordantes. É preciso implementar estratégias
eficazes de prevenção combinada. Defendemos a saúde pública com gestão
publica e com direitos de todos.
Sobre a
transmissão vertical do HIV, Pernambuco ainda vem diagnosticando novos casos em
menores de 5 anos. Segundo o Boletim Epidemiológico do Programa Estadual DST, AIDS
e Hepatites Virais da Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde da Secretaria
Estadual de Saúde de Pernambuco, primeiro semestre de 2014, no ano de 2013 ,”
houve registro de 13 casos de AIDS em menores de 5 anos, 100% desses por
transmissão vertical, ou seja, passiveis de serem evitados com ações oportunas
em tempo hábil – diagnóstico no pré-natal na atenção primária e a referência
para a assistência especializada (SAE) com a adesão a profilaxia.
Em todos os municípios, a testagem do HIV está disponível para todas as
gestantes/parturientes? O que está acontecendo com esses serviços? Como a
vigilância epidemiológica está acompanhando as notificação de
gestantes HIV+ para um melhor planejamento de ações?
É preocupando
que Hospitais de referência em HIV se encontrar apenas na capital pernambucana
e que os SAEs do interior não tenham atualmente estrutura física e de pessoal
adequada para suportar a demanda num contexto de aumento da interiorização do
HIV – o ultimo Boletim Epidemiológico de DST e AIDS indica que dos 185
municípios, 178, ou seja, 96% do total do Estado registraram casos de AIDS.
2. Sobre Tratamento e Assistência
2.1 Exames de
CD4, Carga Virial, Genotipagem e outros:
A Secretária
de Saúde do Estado de Pernambuco informa que os exames de CD4, Carga Viral e
Genotipagem são realizadas três (03) vezes ao ano e que o tempo médio para
entrega de resultados destes exames é de 15 dias úteis. Constatamos que a falta
de cumprimento deste procedimento é visível em diferentes hospitais de
referência, tanto quanto ao tempo da realização do exame, quanto em relação ao
recebimento dos resultados. Informamos, portanto, que em Pernambuco, a entrega
dos resultados desses exames chega a ter duração de até três meses para o
usuário e não 15 dias úteis como consta no documento oficial. Os exames de
rotina chegam a demorar cerca de 20 dias de acordo com as entrevistas que
realizamos e a realização dos exames ocorre apenas 01(uma) vez ao ano.
Depoimentos
de usuários/as:
G:
“Muitos exames que o médico passou eu não fiz porque tem que dormir na fila dos
hospitais. Os outros demoram muito para receber, nem sei quanto tempo, é mais
de 1 mês”.
M: “Já
fiz CD4, carga viral e genotipagem. Também TGO, TH3, Glicose, colesterol,
hepatite... fiz todos os exames e em todos tive que dormir na rua para
conseguir ser atendida no dia seguinte. Não houve demora entre a prescrição e a
coleta porque eu fiz confusão para ser atendida logo“.
C: “O
atendimento nos serviços de referência em AIDS esta carente de
humanização e sigilo. Existe um prazo entre a prescrição médica e coleta do
exame de aproximadamente 3 meses, além da não aceitação de uma prescrição
médica de um hospital de referência para outro e dependendo do prazo de entrega
do resultado do exame e o retorno ao médico espera-se até 6 meses”.
Finalmente
queremos informar que política de Reprodução Assistida para pessoas
soropositivas, lançada em Março de 2005 e regulamentada em julho do mesmo ano
pelo Ministério da Saúde, como parte da Política Nacional de Atenção Integral
em Reprodução Assistida, não tem sido acessada pelos os casais sorodiscordantes
que procuram o serviço não conseguem acessá-lo. Mesmo assim, segundo o site do
Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério de Saúde, o IMIP é a
referência neste serviço. O que está acontecendo com o IMIP e no que estão
sendo utilizados os recursos que deveriam estar beneficiando pessoas
soropositivas?
2.2
Medicamentos:
Segundo a
Secretaria de Saúde de Pernambuco informou a aquisição de medicamentos para
infecções oportunistas é de responsabilidade do Estado e os medicamentos para
as DST (abordagem sindrômica), de responsabilidade dos municípios. Além disso,
informou que as unidades atendem usuário/as no âmbito hospitalar e ambulatorial
de acordo com a complexidade técnica dos medicamentos. Porém, informamos que a
falta dos medicamentos para as infecções oportunistas é uma realidade no âmbito
hospitalar e ambulatorial do Estado e dos Municípios. Não existe medicação
disponível nas farmácias dos hospitais de referência para as coinfecções ou DST
para as Pessoas Vivendo com HIV tratar a sífilis, infecções pulmonares,
diarréias crônicas, furúnculos, dentre outras.
Para sua
informação e providência imediata, segue a lista dos medicamentos para
infecções oportunistas que fazem parte do programa de Infecções oportunistas da
Secretaria Estadual de Saúde de PE e que estão faltando no âmbito ambulatorial
e hospitalar: Aciclovir 200mg, Acido Folinico 15mg, Anfotericina B50mg
Injetável, Azitromicina 500mg, Cetoconazol 200mg, Ciprofloxacina 500mg,
Fluconazol 100mg, Pravastatina 20mg, Sulfadiazina 500mg, Sulfametoxazol 40mg
+Trimetoprima 8mg/ml, Suspensão oral 100ml, Gardenal 100mg, Dipirona 500mg,
Benzetacil, Diclofenaco – sódio e potássio, Nistatina Oral, e Sulfadiazina
500mg.
Sobre as
explicações adequadas de medicações, efeitos colaterais, adesão ao tratamento,
alguns profissionais de saúde informam aos seus/suas pacientes, mas a maioria
não. Na maioria das vezes os usuários/as têm que questionar os/as médicos para
saberem mais informações sobre sua saúde, apesar de aumentar o conhecimento
sobre a própria saúde ser um interesse do paciente, começaremos a denunciar, a
partir de agora, os profissionais que não fizerem o esforço e cumprirem sua
responsabilidade de prestar um atendimento de qualidade às pessoas vivendo com
hiv e solicitamos que uma circular seja enviada a toda lista de profissionais do
estado sobre essa decisão da RNP+/PE.
2.3 Cirurgias
reparadoras para Lipodistrofia:
Atualmente temos dois hospitais de referência em AIDS credenciados para
realização das cirurgias reparadoras para a Lipodistrofia no estado, recebendo recursos
do Governo Federal, segundo a portaria Conjunta do Ministério da Saúde Nº 02,
DE 27 DE Março de 2007 que regulariza os procedimentos referentes ao processo
de cirurgias reparadoras em Pessoas Vivendo com HIV, decorrente dos efeitos
colaterais provocados pelo uso dos Antirretrovirais (coquetel). Sete anos
depois, em PE essa portaria não esta sendo cumprida na sua integralidade
Temos o Hospital Universitário Oswaldo Cruz/UPE credenciado, mas as pessoas
soropositivas não conseguem acessar ali o serviço. O segundo serviço
credenciado é o IMIP – Instituto Materno Infantil do Estado de Pernambuco que
vem realizando alguns procedimentos, mas sem atender à demanda e onde o
procedimento de preenchimento facial não está sendo realizado. Temos mais de 50
pessoas na fila de espera para realização do procedimento. O profissional
responsável pelas cirurgias, alega como motivo questões políticas entre o
Estado e o IMIP. Ambos não se entendem com relação à responsabilidade pela
compra do produto (metacrilato). Com isso quem são penalizados com esta
irresponsabilidade e falta de compromisso político e social são as Pessoas
Vivendo com HIV, e que cotidianamente sofrem discriminação e estigma devido os
efeitos da Lipodistrofia no corpo e na vida. Exigimos resolução imediata do
caso.
2.4 Hospitais
de Referência, Rede de atendimento, leitos para internação:
Um dos
princípios do SUS é a descentralização, mas a nossa realidade é outra, ou seja
os hospitais de referência em HIV e AIDS estão centralizados na capital. Com
isso as pessoas soropositivas do interior atualmente estão vivenciando
situações de caos no que diz respeito à assistência especializada. Temos
municípios como Caruaru, Limoeiro, Arcoverde, Ouricuri, Paulista, Recife,
Abreu e Lima, São Lourenço da Mata dentre outros que não estão cumprindo
com os princípios da Universalidade e Integralidade, e não estão
atendendo novos casos de HIV e onde a primeira consulta está
marcada para quatro a seis meses depois do diagnóstico. Ali faltam
médicos infectologistas e outras especialidades; a equipe multidisciplinar é
insatisfatória para a demanda; há falta de qualificação dos profissionais no
atendimento, acolhimento e aconselhamento; não cumprem o TFD – Tratamento
Fora do Domicílio; falta estrutura e há sucateamento dos SAE - (Serviço de
Atendimento Especializado) e aumento nos casos de Coinfecção TB/HIV.
Outra
situação grave que precisa de resolução urgente é a insuficiência de leitos,
uma realidade nas emergências do Estado. Conseguir um leito hoje depende do
conhecimento que o/a usuário/a tenha no plantão, onde o mesmo deverá informar
que tem HIV, pois nas grandes emergências não tem médicos infectologistas e os
profissionais de saúde estão despreparados para atender pessoas soropositivas.
Segundo a direção do Hospital Correia Picanço, existem 34 leitos para pessoas
com HIV, porém sempre está lotado, indicando que não existe número suficiente
de leitos.
No Hospital
Oswaldo Cruz/UPE existem apenas 04 leitos disponibilizados para pessoas com HIV
e há muita procura de leitos pelo/as usuário/as do interior que acabam no geral
encaminhados para outros Hospitais que não são de referência em AIDS.
No caso do
Hospital das Clínicas, também considerado hospital referência, desde 2005
permanece a quantidade 15 (quinze) leitos disponíveis, apesar do aumento do
número de casos no Estado. Até quando essa negligência vai continuar?
Depoimentos
de usuários/as:
R:
“Não existem leitos disponíveis suficientes nos hospitais para os internamentos
das pessoas com HIV”.
F: “A
médica me atendeu na sala dela, um consultório de plantonista. E de lá ela
(médica) disse que não podia fazer a medicação porque não tinha leito no
hospital, nem no (hospital) dia, para me deixar tomando a medicação. E aí eu
fui fazer esta medicação lá no Agamenon Magalhães”.
As condições
das instalações físicas, limpeza e higiene dos serviços de referência em AIDS
de modo geral ainda são precárias. Em alguns falta melhoria para alimentação,
lençóis, camas apropriadas, enfim melhorar a infra-estrutura. Os serviços de
limpeza e higiene de um modo geral são bons, mas precisa ainda em algumas
unidades melhorar o espaço físico.
Em relação ao
acolhimento, disponibilidade, educação, respeito no atendimento médico e da
equipe de saúde com os/as usuário/as é necessário fazer investir mais na
sensibilização e monitorar a humanização de profissionais que atuam tanto
na área administrativa, como também com a equipe de atendimento. Usuários
reclamam recorrentemente que, no mínimo os atendimentos são rápidos e muito
“frios” e que os/as atendentes são mal preparados.
Diante do
acima exposto, a RNP+ PE está profundamente preocupada com a
possibilidade do atendimento as pessoas com HIV na atenção básica. É importante
ressaltar que a resposta brasileira de enfrentamento à AIDS teve uma de suas
bases no fortalecimento da retaguarda de atendimento, que além de assegurar os
bons níveis de saúde dos pacientes garante a tranqüilidade necessária a
qualquer tratamento de saúde, dentro do que supomos que seja saúde coletiva.
Ressaltamos
que reconhecemos os avanços da Atenção Básica em nosso país e sua importância
como porta de entrada do sistema, e em momentos importantes do tratamento como
diagnóstico, acolhimento e direcionamento as áreas especializadas. Porém acreditamos
que a sobrecarga, a falta de estrutura e a necessária capacitação dos
profissionais iriam ocupar extenso espaço de tempo e de recursos para se
adaptarem, onde elementos como criação de vínculo, acolhimento especializado,
adesão e outras especificidades não são respeitadas, sem mencionar o prejuízo
das rotinas de tratamento, já iniciadas. Esclarecemos que a falta de uma
informação precisa, com a divergência de falas e informações por parte do
governo, causa apreensão e insegurança nos usuários.
2.5
Atendimentos para as gestantes, mulheres e crianças com HIV:
Em relação ao
atendimento para mulheres com HIV algumas informações são relevantes. A
dificuldade de exercer um direito simples como o de ter acesso a uma consulta
médica ainda é muito latente em Pernambuco, especialmente quando falamos das
mulheres soropositivas que enfrentam as péssimas condições no atendimento. É
sabido que a rede pública de saúde realiza inúmeras capacitações com os/as
profissionais de saúde e todas têm como palavra chave à “humanização”, mas os
indicadores de impacto das formações não estão ainda interiorizados nas ações
por parte dos/as profissionais de saúde. As/os usuárias/os quando procuram o
serviço de saúde ainda são abordadas/os com preconceito e discriminação.
A falta de
profissionais especializados/as para mulheres soropositivas para o HIV, como
por exemplo, um ginecologista prejudica ainda mais a saúde dessas mulheres. No
Estado Pernambuco há apenas dois hospitais de referência, no caso no IMIP e o
Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros ambos localizados em Recife.
A falta da
referência e contra referência aumenta ainda mais a espera por uma consulta
especializada tais como: oftalmologista, otorrinolaringologista,
odontologistas, dentre outros. As mulheres levam aproximadamente de 3 a 4 meses
para conseguir uma consulta, e ficam perambulando pelas unidades de saúde e
muitas chegam a desistir de continuar a busca por um atendimento devido a falta
de recursos para transporte e alimentação
Em relação a
fazer queixas e reclamações dos serviços de saúde existem, em alguns serviços,
caixas para reclamações e em um hospital existe ouvidoria. Porém as reclamações
são feitas e não temos retorno dos encaminhamentos e tampouco dos resultados.
Por isso, normalmente o meio dos/as usuários/as reclamarem é através das ONG’s
e nos Conselhos Estadual e Municipais de saúde.
3. Conclusão
A epidemia de
AIDS em Pernambuco tem-se mantido estabilizada desde o ano de 2002, contudo em
um alto patamar apresentado no período de 2002-2012 uma média de 1.150 casos
notificados por ano com uma taxa de incidência média para o referido período de
13,4 casos por 100.000 habitantes. Observa-se ainda, que a razão de sexo vem
demonstrando cada vez mais uma Feminização da epidemia alcançando 1,6 homens
notificados com AIDS para cada mulher no ano de 2013, e que a taxa de
mortalidade para ambos os sexos tem-se elevado. De 1983 a 2013 em Pernambuco,
178 municípios, 96% do total do estado, registraram juntos, 19.811 casos de AIDS.
Apesar da visível interiorização de registro de casos de AIDS, 75% desses,
concentram-se na Região Metropolitana de Recife. Fato esse, pode ser compreendido
uma vez que a Região Metropolitana possui a maior densidade populacional do
estado, além de contar com a rede de saúde com mais possibilidades de acesso ao
diagnóstico a infecção pelo HIV, conseqüentemente o acompanhamento de caso em
SAE até o aparecimento de critérios que definem caso de AIDS e sua notificação
(dados do Programa Estadual de DST, AIDS e Hepatites Virais da Vigilância em
Saúde da SES/PE – fevereiro/2014).
O uso do
preservativo continua sendo a medida de prevenção mais importante neste campo,
mas depois de vários anos comprova-se insuficiente para o controle mais
profundo da epidemia de AIDS. As denuncias feitas acima são para chamar atenção
dos governos e da sociedade, principalmente para visibilizar as barreiras que
as populações atingidas pela epidemia enfrentam principalmente as populações
marginalizadas tais como gays, usuários de drogas, travestis e transexuais,
profissionais do sexo, pessoas em situação de rua e população privada de
liberdade. Estas populações são alvos de variadas discriminações e continuam a
sofrer violência institucional pelo estado, apesar de igualmente credoras
do artigo 196 da Constituição Federal que estabelece o direito à saúde para
todos e todas o/as brasileiro/as e é um dever do Estado.
Exigimos do
gestor estadual e municipais, o efetivo empenho nas questões por nós colocadas
neste diagnóstico, incluindo:
- maior
agilidade no acesso as consultas e os exames laboratoriais em quantidade
suficiente para atender a demanda;
- formação de
estoques reguladores de todos os insumos para que não faltem ou seja
fracionados;
-
medicamentos imediatamente disponíveis para combater as doenças oportunistas e
DSTs;
- cumprimento
de contratos pactuados para aquisição desses insumos;
realização de
campanhas de prevenção e ações dirigidas às populações de maior vulnerabilidade
ao HIV.
Exigimos o
reconhecimento e a garantia de condições para o exercício do trabalho das Redes
e Organizações Não Governamentais na luta contra Aids, com o objetivo de
politizar e promover a discussão e defesa dos direitos humanos e cidadania e
fortalecimento do SUS público.
Por fim
exigimos o respeito aos nossos direitos constitucionais expresso na CF/1988
seja cumprido pelo Estado: “Saúde é um direito de todos e todas e dever do
estado”.
“Antes nos escondíamos para morrer, hoje nos
mostramos para viver”
Atenciosamente,
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS –
Núcleo Pernambuco
Jair
Brandão de Moura Filho - GESTOS – Soropositividade, Comunicação e Gênero
Contatos:
(81) 3421-7670 / (81) 9764-5875 Tim / (81) 8861-8277 Oi
E-mail
alternativo: jairbrandaofilho@yahoo.com.br / Skype: brandaofilho40
Secretario
Executivo da Parceria Brasileira Contra TB
Membro
do Colegiado Nacional e Regional da RNP+ Brasil
Membro
da Comissão Nacional de DST, Aids e HV/MS
Membro
da Comissão de Aids, TB e HV do Conselho Nacional de Saúde
Conselheiro
Estadual de Saúde de Pernambuco
Membro
do Comitê Técnico de Saúde Integral da População LGBT de PE
__________________________________________________________________________________
Fazendo esse post ai para contribuir com a Divulgação desse texto, originado da RNP+ Núcleo Pernambuco, por entendermos que está sendo de muita urgência que seja reativado o Controle Social das políticas governamentais públicas da saúde para o enfrentamento da prevenção e a assistência, trazendo ao conhecimento popular s novas estratégias de enfrentamento da epidemia/pandemia da AIDS, considerando como temáticas para debates bem como para o Controle Social o que a gestão pública da saúde, juntamente com os seus aliados para produção e venda: os laboratórios, como a Farmanguinho, O LAFEPE, dentre outros, nacionalmente falando.
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Miriam Fialho da Silva.
Socióloga - Pesquisadora da AIDS desde 1996
-Ativista Independente da Articulação AIDS PE;
-Assessora Sênior da ASQV - Grupo de Amigos na Luta Contra a SIDA
pela Qualidade de Vida.
-Representante da ASQV no Comitê Pernambucano de Combate a Tuberculose;
-Representante do Comitê Pernambucano de Combate a Tuberculose no
Comitê Gestor da Rede Brasileira de Combate a Tuberculose
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