quinta-feira, 8 de julho de 2010

CARTASE






CARTASE
“Chega de ser ego auxiliar!
Quero, aqui e agora, ser protagonista
De minha história.
Como fui ao nascer,
Independente da mãe,
Independente do pai,
Independente da vó.
Como percebendo o papel,
Assumindo e desempenhando.
Criando até, quando assustado
Pelo desempenho espontâneo,
Não ousaram elas libertar-me
Deixando-me preso à matriz
Desnecessária já.
E fiquei ali, entre lençóis e tremores
A chupar o dedo.
Não apanhei, então, para viver.
Muito apanhei, porém, para
Continuar vivendo.
E aprendendo.
Aprendendo a não ser espontâneo,
Não ser livre,
Não ser eu.
Ser apenas ego-auxiliar caminhando ao lado do outro.
Perdido no outro.
Da junção das estruturas genéticas
Restou-me gravado na fita mnêmica,
O direito de não ser eu.
Pequeno, mas tão inteligente!”
Na aurora da minha vida,
Na minha infância querida,
Roubaram-me até o direito de ser burro,
Normal, igual aos demais.
Na insanidade de querer ser eu,
Na patologia normal da minha adolescência,
Cortei o cordão umbilical.
Arrancando-me a matriz de identidade.
Porem, só fiz atá-lo em outro ventre.
E de novo ego-auxiliar,
Ator coadjuvante.
Nada mais.
Sem espaço meu, sem história minha.
Apenas ego-auxiliar;
Ator sem ser autor.
Basta!
Chega de ser ego-auxiliar!
No contexto psicodramático da minha vida
Ofereço-me para o aquecimento específico.
Vou desempenhar.
Agora, venha você servir-me de ego-auxiliar.
E você.
E você também.
Desempenhemos, pois, a intemporalidade do
Meu tempo; a inespacialidade do meu “lócus”
Farei agora a minha história
E dela serei autor e ator.
Do redemoinho da cena, saltarei para ver-me ressurgir; no inteiro.
Viverei minha cartase para o mundo e para mim,
Estarei pronto para o encontro
Terminada a ação, restará sempre a memória de mim e da minha história
Lembrando e relembrando pelos pares do meu átomo social;
Os complementares,
Os simétricos,
Os télicos e os transferenciais
E esgotada a história
Restará ainda
Uma última “possibilidade de encontro.”

(Do Livro: Jogos para Terapia, Treinamento e Educação, páginas: 13,14)
Autor: (Aldo Silva Junior)