sexta-feira, 3 de junho de 2011

FILOSOFANDO



VIVER NÃO DÓI

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém
das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e
passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por
todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os
shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e
paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que , esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Textos e Contextos: Algumas Considerações






O QUE É TEXTO

Texto é um termo de significação ampla, e, portanto aberta sugerindo interpretações diversas. Os dicionários definem texto como sendo palavras próprias de um autor; o conteúdo de um livro, ou de escritos. Também são palavras citadas para comprovar alguma coisa; palavras bíblicas que o orador sacro cita, tornando-as a base do sermão. Na definição lingüística texto pode ser definido como conjunto de palavras e frases, articuladas sobre qualquer assunto, ou temas, que são tratados conjuntamente. A distribuição articulada de palavras que resultam num texto norteia o pensamento de outras pessoas que estejam buscando interpretações lógicas para determinadas realidades, situações que possam estar sendo investigadas, observadas, analisadas, etc. Portanto, texto é o produto final de buscas de categorias estudiosas, ou não, dentro dos espaços da produção do saber, ou de outras construções do conhecimento que dá visibilidade ao que se pensou, pesquisou e construiu no mundo da idéias organizadas. Um texto mostra a finalização dos trabalhos literários feitos sob abordagens bem construídas e bem delimitadas que vai sendo repassado para que outros indivíduos tomem conhecimento de que determinadas idéias elaboradas, resultaram na agregação sistematizada das palavras, dentro de ordens e lógicas para divulgação de vários conteúdos elaborados. Um texto serve como uma ferramenta de consulta para um contingente ilimitado de pessoas, que estão procurando respostas a muitas interrogações acerca de diversas questões levantadas para esclarecimentos de situações diversificadas do viver cotidiano dos indivíduos.

Pensando numa premissa lingüística texto traduz semânticas, explicações das linguagens formadoras de opiniões, ou não, dos discursos. De modo que, o texto é estruturado, articulado, para garantir os aspectos semânticos daquilo que compõe seu conjunto idealístico. Por sua vez, é na sua estruturação idealística que as relações lingüísticas garantem as interpretações dos conteúdos em perspectivas. Na sua construção, o texto deve ter uma formação coerente, ser coeso para garantir a fidedignidade do conteúdo interpretado, que estabeleça relação e interligação dos conteúdos e as compreensões dos sentidos e significados, tanto no simbólico e imaginário, quanto do real-empírico do que o texto está tratando, contidos nas abordagens que lhe dá forma textual. É fundamental que no texto seja percebida a conexão entre as palavras, expressões verbais e linguagem frasal. O texto requer ter um significado explicativo que sugira interpretações hermenêuticas e sistêmicas, especialmente quando seus conteúdos textuais estão veiculando explicações teóricas. Na construção do texto algumas interpretações possuem relevância, dentre elas está à semiótica, visto que esse recurso lingüístico pode ser uma estratégia direcionadora da idéia que esteja sendo seguida pelo autor, no que ele quer expressar para dar legivisibilidade ao conteúdo que está sendo exposto.

O texto tem diversas estruturas e formas de ser construído, interpretado e visualizado. Assim, pode ser escrito em formato de livros, artigos, crônicas, entrevistas e muitos outros; pode ser comunicado oralmente em forma de conferencias, palestras, exposições em mesas, etc. Pode ainda ser comunicado nas artes gráficas, como ilustrações em pôsteres, imagens e graffitagens. O que se torna bem significativo no texto é que, de qualquer forma que o mesmo seja construído ele deverá garantir coerência de linguagem, de comunicação visual no seu conteúdo conjuntivo a partir do que está sendo exposto ou falado; ser sugestivo no que se propõe a comunicar textualmente; ter criatividade e autenticidade no que está divulgando, e ser sugestivo para a crítica.

O Que é Contexto

Contexto também é um tema de significação ampla e por assim dizer de semântica muito abstrata. Se texto é um tema amplo, a sua explicação lingüística é favorecida quando o mesmo assumi forma de livro, ou de um artigo escrito, ou até mesmo de uma imagem publicada, de um banner feito, etc. Quanto ao termo contexto dar uma interpretação conceitual do mesmo fica por demais complexo de o fazer visto que o mesmo além de ser amplo por demais, ainda vem subjacente a um tipo de subjetividade tão complexo que se torna quase que impossível tornar inteligível para as pessoas o seu sentido e significado. Contexto pode ser conceituado como a relação entre o texto e a situação em que ele ocorre. É um conjunto circunstancial em que a mensagem se produz. O lugar e o tempo, o emissor e o receptor, possibilitam que haja a compreensão correta entre as duas instancias que se completam ou se interpõem. Ou seja, o contexto revela realidades, situações, ocorrências de fatos que terminam por incorrer na produção do texto. Contexto é o conjunto; o aparato crítico; o todo onde se constroem os textos. É ainda o espaço-tempo onde uma dada situação se instaura, se apresenta. Por exemplo, numa comoção social resultante de ocorrência de catástrofes derivadas de fenômenos geográficos, ou algum tipo de ocorrência de algum tipo de violência praticada por alguém que vem afetar muitas pessoas; o lugar, o modo, onde ocorreu a morte de alguma personalidade, que venha causar perplexidade no tecido social, podem ser interpretados como contextos criados e que fragilizam as populações e, portanto requerem que se tomem decisões para resolver as situações emergenciais causadas por aqueles fenômenos. O Contexto é o que explica e justifica as ocorrências de situações, alegres ou tristes, ruins ou boas, compreensíveis ou não, e a partir dessas situações são emitidos juízos de valor, interpretações justas ou injustas, tomam-se resoluções acertadas ou não. Nesse parecer à opinião pública tem proeminência, visto que é a partir das opiniões que outros mecanismos são ativados para se chegar ao consenso. Exemplificando: o advento da epidemia da AIDS causou uma situação de muitas preocupações, inquietações, gerando significativos conflitos sociais, visto que no inicio do seu surgimento se responsabilizaram uma categoria de pessoas como os responsáveis pelo acontecimento: os gays, tomados como os grupos de risco foram tidos como os responsáveis pela AIDS, vindo a sofrer todo tipo de preconceitos e discriminação quando se sabia que o individuo estava soropositivo para o vírus HIV. Nessa experiência os contextos socioeconômicos e culturais pesaram muito para que se buscasse uma solução justa para lidar com a questão AIDS. O contexto é tão subjetivo quanto é o texto. Ele se instaura nos universos simbólicos e imaginários da linguagem, e somente a partir da interpretação que lhe é dada por alguém, ou por uma instituição, como a justiça, por qualquer outra instancia social é que ele é tomado e serve como base explicativa.

Assim, o contexto passa a ser visto como um estado da realidade que poderá ser favorável, ou não, para que ocorram as mudanças requeridas. O contexto é o espaço da ocorrência da situação, e assim sendo o mesmo se inscreve de formas diferentes, pois está definitivamente ligado a produção humana, a ocorrência de fatos, e também as expressões culturais. Portanto, contexto tanto é um espaço físico onde as coisas acontecem, como também pode ser o espaço tempo que as coisas requerem para poder acontecer. O contexto é a expressão crítica e situacional onde as ações reais dos indivíduos ocorrem. Sendo ele favorável ou não aos resultados esperados ele existe, é permanente e só muda se forem tomadas as medidas devidas, que contextualizadas, deveram gerar as mudanças necessárias ao que está sendo mostrado no contexto em perspectiva. A palavra contexto também tem sua explicação semântica na lingüística, onde autores renomados como Malinowski, dentre outros tantos, realizaram estudos para entender e explicar a terminologia dessa palavra. Contexto é um conjunto de circunstancias em que mensagens são construídas, é a relação entre texto e a situação na qual ele se isntaura.

Texto e Contexto

Textos e contextos são duas palavras que se complementam. Ao que tudo indica, não é possível pensar nem muito menos entender o texto se o contexto não for considerado adequado para tanto, e também, não se pode criar o texto se não houver uma situação contextual que possa ser tomada como a base referencial de onde o texto possa ser originado. O contexto termina por ser de uma significação singular na produção do texto. Seja ele em qualquer nível que venha a se instaurar. Se for à arte gráfica, na escrita, na imagem, o texto vai partir sempre do contexto, de uma linguagem circunstancial que lhe dará origem e sentidos explicativos para ser tomado como contexto do texto. Os termos textos e contextos, portanto, são de grande utilidade como as ferramentas da linguagem que se usam, culturalmente dentro de todos os espaços onde os indivíduos se inserem e produzem algum tipo de saber, tanto do senso comum, quanto da produção do conhecimento. Nas explicações teóricas das representações sociais esses termos são de muita valia. Tanto texto quanto contexto, ambos são lugar e tempo para possibilitar a compreensão correta e adequada das realidades dadas.


___________________________
MIRIAM FIALHO
Consultora Clínica
Pesquisadora