sábado, 26 de novembro de 2011

MATURIDADE



MATURIDADE: PESSOAS IDOSAS, PESSOAS FELIZES.

A idade madura é definida como sendo a inserção do indivíduo numa fase vivencial de estabilidade humana na vida social, profissional, intelectual, conjugal e familiar a partir da qual vão se tecendo formas diferenciadas para vivenciar essa estabilidade, apresentada e caracterizada pela maturidade. Tomando como referencial discursivo dessa temática algumas explicações que tratam desse assunto nos espaços da comunicação midiática, quando a maturidade é tratada como “Boa Idade” que trata desse assunto com relevância é possível comprovar que a vida adulta é um período de vivências marcada por várias transições, conotações e transformações relevantes e norteadoras. A vida madura geralmente impõe mudanças substantivas na vida ao longo do tempo de vida que se está vivendo. As várias mudanças ao longo da vida adulta não se limitam unicamente ao nível da cognitividade, mas também na materialidade das práticas existenciais de ser, ter e fazer, o que torna necessário que essa fase seja concebida uma etapa significativa num período evolutivo da vida emocional. A vida adulta é completamente percepcionada como uma fase a partir da qual a pessoa alcança seu estágio maduro tanto de viver a vida, quanto de se relacionar e interagir nos meios sociais onde está inserida. De forma que a maturidade não é um estágio de vida estático, em que as pessoas ficam engessadas e sem iniciativas para operacionalizar suas escolhas e estratégias de viver, e viver bem, mas que vem chegando, muitas vezes até mesmo alheia a percepção e ao querer das pessoas. A maturidade não é algo adquirido mas sim imposto pela vida e sua natureza. O indivíduo alcança a idade adulta, a maturidade, como resultado do processo existencial do ciclo da vida o que se explica pela mudança da faixa etária. Essa mudança se configura em passagens a partir das quais as pessoas vão amadurecendo, e com essa maturidade passam a perceber que não são mais as mesmas de antes e também não se identificam mais com as coisas que na fase mais nova de suas existências tinham outras prioridades. Nessa realidade alguns indicadores são relevantes como intrumentos de análise e confirmação das mudanças existenciais. Dentre eles estão as condições de saúde sob que são postas as pessoas maduras; a aposentadoria do trabalho formal; o papel social na relação de família, e outros. A idade adulta nem sempre é uma confirmação da maturidade pois, temos pessoas jovens mas que já são adultas com o advento da maior idade. A maturidade é diferente. Ela é uma condição humana que se conquista com a aproximação do envelhecimento. E esse envelhecimento não é apenas corpóreo, mas é também mental e emocional, e ele resulta em perdas relevantes, visto que coloca os indivíduos numa condição de disparidade com os outros. Sendo isso um processo natural por ser o resultado da mudança ciclica da vida. Portanto, a maturidade deixa nas pessoas a marca de quem já passou por outras etapas na vida e agora se está passando pela etapa da transposição dos status; jovem, adulto-jovem, meia idade e velhice. Todavia, é significativo referendar que a maturidade tem também seu valor. É o domínio do saber vivido experiencialmente. Mentes saudáveis, porém amadurecidas pela passagem do tempo com aprendizado em nivel de excelência é mesmo o que faz a diferença entre as faixas etárias e concede a pessoa madura uma condição diferenciada no trato com os jovens e na redefinição da sua própria caminhada pela vida que ainda se tem para viver. Nessa posição de pessoa adulta e madura ocorre uma redefinição dos papéis sociais e também outras posturas são observadas e atribuídas. E isso ocorre a partir da fase da senilidade. Então, a maturidade perde a sua expressão.
A vida natural é um ciclo: nascer, crescer, morrer. Dentro desse ciclo, no processo de crescimento nós vamos aos poucos sendo construídos. Passamos por mudanças diversas e em todos os aspectos da nossa vida, tanto no nível orgânico: corpo físico; quanto no emocional: mente sã. Nessa perspectiva a condição existencial humana muda e se transforma em outras prerrogativas e interesses de escolhas para se estabelecer a vida. Portanto, com a mudança da idade que remodelam as interpretações existenciais dos indivíduos maduros e idosos outros saberes são desvelados e novos aprendizados da humanidade são adquiridos. Então, passam a viver cada fase das suas vidas de forma diferenciada e se caracteriza com peculiaridade.
Fazendo uma comparação simples entre duas fazes da personalidade humana: a fase de vida jovem e a idosa ver-se que são totalmente diferenciadas uma da outra, e cada uma a impõe posturas e papéis distintos. Nessa compreensão, chega-se até ao questionamento: Qual é a mais brilhante? Tomando como referência analítica que ser jovem é estar no pódio para tudo; nas possibilidades de que os jovens estão no centro dos interesses contratuais para trabalho e estudo, é favorável reconhecer que a idade preferencial é a jovem. Nesse parecer à idade jovem é a que favorece a todos. Segundo algumas interpretações, que não serão citados aqui no momento, a juventude é a fase dos sonhos mais inusitados que podem existir e por isso ela simboliza a animação para viver e investir; é a fase da virilidade ativa; da alegria inconteste para dar e vender; da descontração e dos desejos mais veementes possíveis. Juventude simboliza a vida ativa. É a fase de investir nos projetos mais mirabolantes possíveis porque ser jovem é ser inventivo e ousado. O espírito de aventura está na cabeça do jovem e ele pode tudo, pois a saúde está com ele, muito embora a realidade esteja o tempo todo dizendo que nem sempre é assim, a sociedade secular insiste em legitimar essa idéia como a essencial quando o assunto é faixa etária.
Quando, a idade avança e se sai desse circuito do ser jovem e se passa para o de ser maduro, idoso, as interpretações e os discursos mudam assumindo outros sentidos e significados. Assim, a vida adulta produz um sujeito que é definido como idoso. Portanto, a perspectiva de um amanhã que já amadureceu e já chegou
à iminência do morrer é a realidade que causa desconforto, instabilidade e insegurança. A visão do futuro é curta e perversa. O aqui e agora; corra porque o tempo urge; faça projetos curtos e bem operacionais passa a ser a melhor estratégia para a idade madura. Todavia, essa é uma forma ideologizada de ver e explicar assa faze da vida madura. Na realidade as coisas não são bem assim e a pessoa idosa não perde a sua capacidade humana de ir mais além mesmo sendo idosa. O idoso é a pessoa que também é inventiva, é sonhadora, ama a vida e quer ir o mais longe que puder, mesmo que em algumas realidades a esperança maior seja a de ver um filho formado, ou a chegada dos netos. O domínio das experiências com o crescimento, rumo à maturidade, é uma ferramenta que o idoso trás na sua bagagem.

A partir das experiências com a maturidade o indivíduo maduro ainda quer ver e viver a vida como algo possível de ser executado. Certamente que aqui algumas questões também se impõem, são relevantes, mas todas podem e devem ser bem respondidas. Qual a estratégia melhor para ser uma pessoa idosa e ser viva, ativa e feliz? O que é preciso fazer para acalentar as esperanças, os sonhos e as utopias, mesmo sendo uma pessoa madura e até ser já aposentada? Idosos ainda têm muitas perspectivas de vida? Ainda podem ter muitas esperanças? Ainda sentem paixão por outra pessoa? Uma pessoa idosa não é a caixinha de “pandora”, cheia de mistérios e causando suspiros de curiosidades. A idade madura é geradora, ou pelo menos deveria ser de muitas surpresas e coisas positivas que se efetivam em um viver com bem estar e sentimentos altruístas e renovadores do corpo da mente.

A maturidade é provocativa e faz nascer nas interioridades um sentimento identitário de paz completa consigo e com o mundo nunca vivido antes e que só é partilhado pelos que estão também vivendo e aprendendo com todos os sentimentos peculiares a maturidade. Certo sentimento de vida interior e exterior muito bem vivida produz um grau de satisfação recompensatório e inédito. Pois, cada atitude, cada iniciativa é sempre muito bem tomada. Cada descoberta é sempre muito bem vinda por ser produto das investigações de mentes experientes, sábias e fronteiriças. São hiper produtivas. Sentimentos de realizações e alegrias povoam o imaginário idoso de forma compensatória e gratificante. A tomada de decisão gera bem estar, alegria e paz. A maturidade gera certeza de etapas cumpridas e bem vividas. De caminhadas longas e construtivas, mesmo que difíceis e dolorosas. Essas etapas ao se cumprirem dão excelentes resultados, e formam o “Portfólio” identificatório do sujeito idoso, maduro,experiente e competente.

Numa abordagem do livro Passagens-crises previsivéis da vida adulta,essa realidade pode ser conferida em profundidade.
A vida é uma instancia máxima onde as pessoas têm todas as oportunidades possíveis e impossíveis de viver e interferir na vida. A passagem dos ciclos é sempre um desvelar dos conteúdos. O confronto com a finitude provoca crises existenciais muito graves e dolorosas, a ponto de causar conflitos sérios e inquietantes. Mas, a vida é uma instancia onde o prazer deve ser desejado e vivido, independente da faixa etária de cada sujeito. O significativo em todas as idades vividas são as certezas de que se investiu bem, e os resultados foram proveitosos. E, a interação humana e social entre cada sujeito e sua idade será apenas a porta para o enriquecimento de cada um, cada qual vivendo os seus contextos e as suas experiências da melhor forma, no melhor tempo e estilo que lhe for possível viver. Chegar à idade madura termina por ser um ajuste de contas. Um ano vivido com descobertas várias, com decisões tomadas e muitas escolhas feitas. Sim, isso é o que há de mais gratificante e especial. É o confronto com as mudanças, com os desencantos de não poder mais sonhar com as borboletas cor de rosa. Mas, é também o saber expressar e viver sentimentos de realização da missão cumprida. Estar convicto de que nada foi por acaso, nada foi em vão e de que todas as decisões tomadas, e investidas feitas é o que pode haver de mais prazeroso e realizador para qualquer ser humano que estiver passando pela experiência da idade madura. No relato a seguir a idade madura, e o significado do ser idoso faz muito sentido. Ser idoso e permanecer sendo uma pessoa jovem espiritualmente, proativa e realizada, rumo ao infinito pode trazer experiências prezerosas.

“Se a força física e os prazeres dos sentidos forem considerados os maiores prazeres da vida, então nos negamos ser, após a juventude, qualquer coisa senão uma maré baixa de experiências. Se não encontramos nada que substitua a acumulação de bens e êxitos, então nos prendemos na armadilha de uma meia-idade cediça e rotineira. No entanto, as alegrias da autodescoberta estão sempre à nossa disposição. Ainda que entes queridos saiam de nossas vidas e entrem nela, a capacidade de amar permanece. E para o espírito libertado dos esforços constantes dos primeiros anos, resta tempo mais tarde para ponderar sem interrupção sobre os mistérios da existência. A coragem de dar novos passos permite-nos abandonar cada estágio com suas satisfações e encontrar as novas respostas que a liberarão a riqueza do estágio seguinte. O poder de animar todas as estações da vida é um poder que vive dentro de nós mesmos” (Gail Sheehy, p 482, 1981).

Certamente que aniversariar na idade adulta é acrescentar mais um ano no calendário da vida e isso pesa muito. Dúvidas e inquietações surgem de montão. Mas, é também o confronto com os avanços na idade e com a fragilização de incrementar ações que ainda estão incompletas nos mundos imaginários e nos universos dos desejos. Porém, é poder ir saindo da condição de mocinho e entrando na condição de idoso, usando os recursos que foram obtidos a partir da maturidade construída. Então, gradualmente, os indivíduos vão se tornando em pessoas maduras e pessoas idosas. Por certo que são experientes, possuem sabedoria, são polidos, sabem ser seletivos e possuem um tipo de beleza que lhes é peculair. Esse é o processo natural da vida. No final de tudo, as faixas etárias coexistem num mesmo espaço social e mesmo que essa coexistência se dê em tempos e formas diversificadas, em função até de ideários de vida antagônicos no universo dos sonhos e dos desejos que são antropologicamente instaurados nas mentes e em padrões e normas difusos, é notório que as experiências da maturidade humana são de valia significativa na interação social das práticas de vidas dos sujeitos. Nesse parecer, as idades diferentes só corroboram para a valorização do status social das identidades maduras.

Portanto,maturidade simboliza um estado natural de ser da pessoa que alcançou a idade adulta. O estado de ser maduro, ou de estar ficando maduro remete a situação de vida na qual a pessoa demonstra postura de vida concatenada com sua intimidade, sua individualidade, suas escolhas e formas de interagir socialmente. A maturidade suscita uma postura de vida coerente a partir da qual as escolhas são feitas e as posições são assumidas com autonomia e independência de fatores externos. Numa interpretação psicológica a resposta cognitiva que é dada pela pessoa madura tem valor fundamental para o reconhecimento próprio e o exercício da maturidade. Equilíbrio emocional é requisito fundante da maturidade. Pessoas que já viveram suas faixas etárias anteriores, passando por todos os percalços que essas idades demandaram, chegam na idade adulta maturadas. Essa maturação é a condição essencial para que se viva os percalços da outra, idade adulta, até a chegada final do período da senilidade, que é a velhice propriamente dita. Dizendo de outro modo, a maturidade estabiliza o sujeito com a sua interioridade e exterioridade dentro da sua faixa etária, dando para ele uma excelente auto-percepção de si mesmo e da caminhada pela vida, em nível do que se fez, e que se deixou de fazer e do tempo restante para realização do que ainda está faltando. Nessa perspectiva o espelho, do qual trata o teórico Lacan, tem uma função extremamente importante e útil, visto que revela ao sujeito sua auto-imagem com todas as suas nuanças e mudanças no organismo. As rugas, as barriguinhas e as pelancas estão nessas nuanças. No espelho, a auto-imagem denuncia, ou pelo menos se espera que denuncie, a idade da pessoa e assim a maturidade é justificada. A maturidade é libertária. Quebra mitos. Impõe mudanças. Redefine valorações. Sugere revoada para outras paragens da vida. Leva aos confrontos existenciais. Força as sensiblidades emocionais. Restaura os afetos. Afrouxa as lágrimas. Fortalece a espiritualidade. Revitaliza o mundo do real. Alarga as fronteiras. A maturidade implica nas mutações. Mas, não apenas nisso. Implica no auto-reconhecimento dessas mutações e como as pessoas podem tirar partido delas para revitalizarem suas vidas saindo em busca de novos achados, novas conquistas e reviver para cada nova experiência que certamente a vida trará para cada pessoa.

Esse texto nasce da minha própria experiência. Trazendo toda essa explicação para minha realidade pessoal de Mulher hoje, eu posso dizer que eu já estou vivendo essa experiência do inicio da minha maturidade agora, e com muita satisfação. Ser Mulher Madura para mim, é muita responsabilidade. Sendo hoje o dia do meu aniversário essa constatação tem um significado brilhante. Penso que o meu estágio de Mulher madura vem como dádiva da vida. Visto que, muitas pessoas passam pela vida sem conseguir perceber suas condições de existência humana. Sem contar que outras não tiveram e outras não terão, oportunidade de completar mais um ano de vida, de se alegrar por ver a data do seu nascimento, de chegar a sua maturidade porque já se foram desta vida para outra. Não importa a idade que se esteja fazendo quando se está bem consigo mesmo. A maturidade será sempre muito bem vinda. Pode ser a idade que for: 50, 60, 70 ou até mais. Em minha opinião e na minha experiência o mais importante é me saber estar sendo honrada pelo Pai Celestial, recebendo das suas mãos tamanha dádiva. Poder me ver, me escutar, me pensar e me conhecer enquanto mulher madura, já depois dos sessenta, me faz feliz, me deixa alegre e humorada. Então, eu posso dizer: eu consegui chagar aonde cheguei e quem mais vai conseguir passar por essa experiência em suas caminhadas?
Aqui, eu só posso dar obrigada a Deus porque Ele está me agraciando com mais essa oportunidade. Completude! Esse é o sentimento que me ocupa hoje.
25 de novembro de 1949 foi um dia que o Senhor fez e nele me trouxe para o mundo. Por isso eu me regozijo e me alegro nele! E então, em agradecimento, eu tomo a liberdade de orar como o salmista: “Ensina-me a contar os meus dias, para que eu possa alcançar coração sábio”. (Salmo 90:12)
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M.FiS - Socióloga
Consultoria Clínica de Projetos e Pesquisas

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A ARTE DE DAR...

"Na esfera das coisas materiais, dar significa ser rico. Não é rico quem muito tem, mas quem muito dá. O ávaro que ansiosamente receia perder alguma coisa é, psicologicamente falando, o homem pobre, empobrecido, não importa quanto possua. Quem é capaz de dar de si é rico. Põe-se à prova como quem pode conceder de si aos outros. Só quem for privado de tudo quanto vá além das mais simples necessidades da existência será incapaz de gozar o ato de dar coisas materiais. Mas, a experiência diária mostra que aquilo que alguém considera como necessidades mínimas depende tanto de seu caráter quanto de suas posses efetivas. É bem sabido que os pobres são mais inclinados a dar do que os ricos. Não obstante, a pobreza além de certo ponto pode tornar impossível dar, e assim é degradante, não só pelo sofrimento que causa diretamente, mas pelo fato de privar o pobre da alegria de dar.

A mais importante esfera de dar, entretanto, não é a das coisas materiais, mas está no reino especificamente humano. Que dá uma pessoa a outra? Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá da sua vida. Isto não quer necessáriamente dizer que sacrifique sua vida por outrem, mas que lhe dê daquilo que em si tem de vivo; de-lhe de sua alegria, de seu conheciemnto, de seu humor, de sua tristeza - de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si. Dando assim de sua vida, enriquece a outra pessoa, valoriza-lhe o sentimento de vida da outra pessoa, valoriza-lhe o sentimento de vitalidade ao valorizar o seu próprio sentimento de vitalidade. Não dá a fim de receber; dar é, em si mesmo requintada alegria. Mas, ao dar, não pode deixar de levar alguma coisa à vida da outra pesoa, e isso que é levado à vida reflete-se de volta no doador; ao dar verdadeiramente, não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno. Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo à vida. No ato de dar, algo nasce, e ambas as pessoas envolvidas são gratas pela vida que para ambas nasceu. Com relação ao amor, isso significa que: o amor é uma força que produz amor.

Quase não é nessário acentuar o fato de que a capacidade de dar depende do desenvolvimento do caráter da pessoa. Pressupõe o alcançamento de uma orientação predominantemente produtiva; nessa orientação a pessoa superou a dependência narcisista, o desejo de explorar os outros, ou de amealhar, e adquiriu fé em seus próprios poderes humanos, coragem de confiar em suas forças para atingir seus alvos. No mesmo grau em que faltarem essas qualidades é ela temerosa de dar-se - e, portanto, de amar..."
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Texto trancrito do Livro A Arte de Amar.
Páginas: 46 a 48
Autor: Erich Fromm
Editora Itatiaia Limitada, 1986 - Belo Horizonte
Vale a pena conferir, mesmo que a publicação seja antiga. Acho que deve ter uma edição mais atualizada.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Que Lindo Poema!




BALADA DA CHUVA

A tarde se embaça: - um pingo, outro pingo
respinga um respingo de encontro à vidraça;
um pingo, outro pingo, e a chuva aumentando
e eu nada distingo,- respinga um respingo
tinindo, cantando de encontro à vidraça

A noite esta baça e a chuva enervante
batendo, batendo, constante, cantante
de encontro à vidraça

A terra se alaga o céu se nevoa,
e a chuva é uma vaga fininha, descendo,
parece garoa!
Parece fumaça!
- e as águas subindo e as poças subindo
e a chuva descendo e a chuva não passa!

O dia surgindo, manhã turva e baça.
A chuva fininha miudinha, miudinha,
parece farinha lá fora caindo,
através da vidraça.

A tarde está escura, a noite está baça,
e as brumas de um tédio
de um tédio sem cura
talvez sem remédio
minha alma esfumaça:

- um dia, outro dia e os dias passando
em lenta agonia segunda a domingo;
um pingo, outro pingo, respinga um respingo,
batendo, cantando, mil dedos tocando
de encontro à vidraça...
-que chuva! Que chuva!
e a chuva não passa!

Constante, cantante caindo distante
nas folhas molhadas,
nas poças paradas despidas e nuas,
e murmurejante rolando nas ruas;
-um pingo, outro pingo
na lata cantando goteira se abrindo
pingando, pingando
batendo, batendo
tinindo, tinindo

parece um tinido, de taça com taça,
e a chuva chovendo
e a chuva não passa!

O vento nas folhas de leve perpassa,
e as gotas nos fios rolando, escorrendo
lá fora estou vendo através da vidraça,
- que dias sem alma!
- que noites sem graça!
e a chuva, que calma!
Chovendo, chovendo
não passa! Não passa!

A terra está envolta nas brumas de um véu,
de um véu de viúva que o dia escurece,
e a noite enfumaça.

- E' a chuva que chove, e do alto se solta
descendo, descendo, rolando, escorrendo
nos olhos do céu...
Nos olhos do céu e no olhar da vidraça!

-Que chuva! Que chuva! Parece um dilúvio,
Quem sabe? - parece que a chuva não passa!


(Poema de JG de Araujo Jorge)
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NOTA:
Este é um dos mais belos poemas que eu já conheci. JG de Araújo Jorge é realmente o cara que soube marcar épocas com as suas belezas poéticas!
Este poema "Balada da Chuva" me faz lembrar da minha infância e adolescência, quando na nossa casa, minha dos meus pais e dos meus irmãos, nas tardes bem molhadas e frias de inverno; chuvas pesadas, grossos pingos caindo naquelas tardes solitárias, a água correndo rua abaixo; comendo pipocas e tomando Q-Suco de morango a gente sentava no chão, bem pertinho da Radiola para, com muito silêncio e reverência, todos bem atentos, ouvir as poesias desse poeta fantástico. Era algo maravilhoso para mim curtir atentamente cheia de muita emoção cada verso do disco em vinil entitulado "AMO" que é o mesmo nome do livro de poesias do autor, ao som da SONATA au luar de Beethoven. Era lindo demais! Eu ficava tão emocionada que meu peito ficava apertado por estar ouvindo uma coisa tão encantadora e emocionante.
Hoje, recordando, eu sou eternamente grata ao meu pai biológico: Sr Ermenegildo, e aos meus irmãos: Moisés e Otoniel por terem me proporcionado viver momentos tão lindos, que mesmo eles sendo ainda muito jovens já eram plenamente sensibilizados e instruídos para saber apreciar o que havia de mais requintado e profundo no mundo da arte poética e musical.Devo a eles toda a sensibilidade que forma minha performance e caráter até hoje.

Espero que vocês gostem dessa beleza de arte poética.
Abraços em todos os seguidores do meu blog.
MiraFialho - 18/11/2011

sábado, 5 de novembro de 2011

9º ERONG - ARACAJU - 2011





“CARTA DOS 9/2011”

O IX ENCONTRO REGIONAL DE ONG e Movimentos Sociais de Luta Contra AIDS do Nordeste (ERONG) realizado na cidade de Aracaju – Sergipe, entre os dias 12 a 15 de julho de 2011, com a presença de delegados e / delegadas; observadores e observadoras elaborou e aprovou na sua plenária final a “Carta dos 9/2011”, documento político e deliberativo com encaminhamentos, diretrizes e desafios que nortearão as ações políticas do Movimento de Luta contra a AIDS do Nordeste, nas áreas de Ativismo e Sustentabilidade, Controle Social no SUS e Intersetorialidade, Direitos Humanos e Vulnerabilidade no contexto da AIDS e Saúde Integral das pessoas vivendo com HIV e AIDS.
A partir dos debates acerca da conjuntura atual do Nordeste, avaliou-se que os desafios identificados no IX ERONG/NE, retratam realidades encontradas no ERONG/NE de 2009, onde programas e ações de prevenção, assistência e tratamento encontrados hoje no Brasil, na maioria das vezes não se adéquam as diversas realidades tornando-se sem efetividade e com falhas, contribuindo insatisfatoriamente para a resposta que queremos diante da epidemia de AIDS – enfrentamento real e global e avanços em direção à cura.
Diante deste cenário o movimento de luta contra a AIDS avançou na reflexão sobre questões que envolvem a sustentabilidade do movimento e que passa desde a questão da criminalização dos movimentos sociais, a falta e diminuição de recursos para a saúde (principalmente a AIDS), incluindo a privatização do Sistema Único de Saúde (SUS) e a criminalização dos diversos seguimentos dos movimentos sociais (AIDS, mulheres, LGBT, negros/as, lésbicas, indígenas, sem terra, sem teto, quilombolas, travestis, transexuais pessoas com deficiências, jovens entre outros), isso aliados a execução das políticas públicas a partir do modelo neoliberal que prioriza o investimento econômico em detrimento a qualidade de vida dos/as cidadãos/cidadãs.
Para que ocorra uma efetivação das políticas públicas é necessário promover maior participação da sociedade civil organizada nos espaços formais e não-formais de controle social, além de formação política continuada dos ativistas de acordo com os eixos abaixo abordados.
ATIVISMO E SUSTENTABILIDADE
Foi debatido no evento questões importante para a reflexão de como os diversos segmentos, dentro do movimento AIDS, não estão conseguindo realizar de forma eficaz monitoramento e avaliação das políticas pública referentes ao seu campo de atuação. Isso se dá como resultado da atual conjuntura dos espaços de controle social que refletem o modelo das conferências de políticas públicas que nos últimos anos se mostram ineficazes e, cada vez mais, não estão alocadas no Plano Plurianual/PPA, colocando como indicativo a necessidade de repensar estes modelos, porém só será possível se estivermos presentes nesses espaços. Sendo assim não basta apenas lutar pela efetivação de políticas públicas, é necessário estarmos presentes e pressionar a elaboração, dotação orçamentária e monitorarmos a execução promovendo um movimento constante de Advocacy.
Ampliar a noção de sustentabilidade das ONGs e dos movimentos sociais, para além da elaboração de projetos, entendendo a importância da capacidade de articulação de parcerias locais, nacionais e internacionais que hoje se refletem na dificuldade de acesso, repasse dos recursos, na própria execução da proposta aprovada e da prestação de contas. Isso reforça que precisamos fortalecer a luta de acesso a fundos públicos, como reconhecimento por parte do governo da atuação qualificada dos sujeitos políticos organizados no Brasil e em especial na região nordeste, devido às históricas desigualdades estruturais que se refletem na população desta região.
Neste eixo, a partir das discussões de grupo, foram sugeridas algumas recomendações para ser inserido nas ações do movimento de luta contra AIDS da região Nordeste:
- Mudança da metodologia e do formato do ERONG/NE, entre eles o mapeamento dos movimentos sociais organizados que estão na luta contra AIDS, garantindo a participação dos mesmos, fazendo cumprir o que foi acordado no 8º ERONG/NE;
- Criar grupos de estudos nas bases para fortalecer novos ativistas;
- Realizar monitoramento e avaliação dos PAM;

CONTROLE SOCIAL NO SUS E INTERSETORIALIDADE
A quase 23 anos da criação do SUS, observa-se que seus princípios: universalidade, intersetorialidade, equidade, integralidade e participação social, ainda se apresentam como um grande desafio. É necessário pensar as políticas sociais para além da saúde – enquanto qualidade de vida e promoção, tendo em vista que o modelo econômico contribui para o sucateamento e a privatização das diversas políticas sociais (saúde, previdência, assistência, educação, habitação, cultura, segurança, etc.). Nossa luta não é apenas para garantir a qualidade dos serviços, mas também para a vida das pessoas. Para isso destacamos alguns pontos importantes que devem ser considerados para fortalecer o movimento social na luta contra AIDS:
• Geração de emprego e renda, com garantia dos direitos trabalhistas para as pessoas vivendo com HIV e AIDS;
• Contemplar nas políticas públicas ações voltadas para população que estar envelhecendo, levando em conta a dificuldade na acessibilidade e na assistência adequada a essa população;
• Perceber que o modelo do sistema neoliberal, que matem a lógica da valorização do capital em detrimento a garantia de direitos dos/das cidadãos/cidadãs, ampliam e sustentam as desigualdades sociais, que para o enfrentamento da AIDS, se destacam:
 o abuso sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas (inclusive o Crack);
 a falta de investimento na política habitacional;
 a negligência com a população de crianças, adolescentes e jovens;
 a feminização da epidemia;
 o fundamentalismo religioso;
 a interiorização e pauperização da epidemia;
 a importância de reconhecer as lésbicas, as travestis e os/as transexuais, como pessoas de direito;
 o preconceito racial;
 a violência institucional, sexual, física e psicológica;
 a falta de atenção aos direitos da população com deficiência física e mental;
 a não garantia da segurança alimentar para as pessoas vivendo com HIV (garantida em lei);
 as dificuldades de garantir as cirurgias reparadoras (Lipodistrofia);
 a falta de pesquisas sobre os efeitos colaterais do uso dos medicamentos Anti-Retrovirais;
 as negligências referentes à saúde mental;
 a negação do direito de ir e vir (acesso ao passe livre);
 a redução de danos, entre outros;
• Atenção a saúde das populações em situações de vulnerabilidade social, considerando as relações de gênero, raça/etnia, classe social, religião, orientação sexual e geração. É importante ressaltar que as políticas públicas não refletem que grande parte da população afetada pela epidemia da AIDS é negra e afrodescendente;
• Construir e fortalecer a luta contra o modelo patriarcal e o coronelismo em prol da eliminação do machismo presente nas instituições pelo fim da homofobia, lesbofobia e transfobia;
Esses pontos devem servi como eixos norteadores para o próprio movimento de luta contra AIDS no nordeste, para que esse se apodere dessas questões, utilizando-os para pressionar as diversas estâncias governamentais (executivo, legislativo e judiciário), no intuito de garantir o diálogo e os avanços da integralidade das políticas públicas.
Neste eixo, a partir das discussões de grupo, foram feitas algumas recomendações para ser inserido nas ações do movimento de luta contra AIDS da região Nordeste:
- Lutar pela interiorização dos centros de referências;
- Monitorar os sítios de vacinas;
- Monitorar a implementação dos planos de enfrentamento da epidemia da AIDS: Plano de Feminização, Plano de enfrentamento da AIDS entre Gays, HSH, Travestis e Trassexuais, Saúde e Prevenção nas escolas e Prevenção e Saúde na Escola;
- Aproximar e fortalecer o diálogo entre os estados da região nordeste;
- Fortalecer a realização de atos públicos nos ERONGS, assim como em espaços que venham a violar os direitos das pessoas vivendo com HIV/AIDS.

DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE NO CONTEXTO DA AIDS
O Brasil é o único país da America Latina a garantir em lei a saúde como um direito universal em sua constituição. Contudo são vários os problemas encontrados na execução dessa política, entre os quais destacamos: o maior gasto dos recursos do SUS em entidades privadas, causando inclusive o sucateamento dos serviços públicos; A privatização da saúde pública, onde os hospitais passam a ser gerenciados por fundações e/ou organizações sociais, sem a intervenção do controle social.
A quantidade dos diversos planos elaborados pelo governo: Plano integrado de Enfrentamento a Feminização da AIDS; Plano de enfrentamento da epidemia das DST e AIDS entre Gays, HSH e Travestis; Saúde e Prevenção nas Escolas e; Prevenção e Saúde na Escola, não dão respostas efetivas as vulnerabilidades, ao contrário acabam por reafirmar as contradições (inclusive a contradição da garantia dos princípios do SUS, haja vista a fragmentação e os recortes) e não efetivam a garantia dos direitos humanos em sua universalidade, equidade, integralidade e regionalização.
Os planos elaborados, muitas vezes não levam em conta particularidades dos sujeitos, suas diversas realidades, sua organização social e política, pois não estão dentro de outras políticas ao qual deveriam estar articuladas (Exemplo: Os planos mal se articulam com as políticas de habitação, entre outras). Além da maioria não conseguirem dotação orçamentária para sua execução.
O processo de vulnerabilidade aliados as questões como discriminação, estigmas e preconceitos, afastam ou invisibilizam determinadas populações em seus direitos, como é o caso das populações indígenas, as populações em situação de rua, as populações negras, as populações ciganas, entre outras. A atuação governamental voltada para essas populações vulneráveis acabam, por muitas vezes, sendo ações paliativas e sem garantia de continuidade. Esse processo é resultante das raízes históricas e da opressão presente nesse contexto, que fortalece as desigualdades e não promove mudanças concretas. Um exemplo do reflexo dessa desigualdade é a condição em que se encontram as travestis e transexuais negras, pobres e nordestinas, que sofrem uma tripla discriminação e não conseguem se inserir no mercado de trabalho, nem conseguem se manter em espaços de educação e/ou formação profissional.
Para avançar na garantia dos direitos humanos, é necessário criar estratégias e unir forças, realizando alianças com os diversos movimentos sociais, além de fortalecer o movimento AIDS. Outra estratégia importante é o fortalecimento de novos ativistas, além de repensar o modelo social de participação, valorizando a inclusão dos/as ativistas que não estão em ONGs, mas que politicamente contribuem para a luta contra a AIDS. Temos que unir forças, pois as transformações sociais só ocorrem, quando realizamos a transformação pessoal.
Pensando na região nordeste, temos o desafio de atuar de forma mais contundente para enfrentar essas desigualdades, uma vez que, como mostram diversos estudos (inclusive estudos governamentais) é nessa região onde as desigualdades são mais gritantes. Para reafirmar essa constatação basta fazer uma leitura dos boletins epidemiológicos dos estados do nordeste e compará-los com os boletins dos estados de outras regiões.
É necessário intensificar a formação política das pessoas que fazem o movimento AIDS, para haja uma intervenção eficaz, pois se não fizermos isso, como mudar a realidade social em que vivemos atualmente? Olhemos para as diferenças, não no sentido de fragmentar o movimento, mas para reconhecer sua diversidade, incentivando inclusive a intersetorialidade entre os movimentos, fazendo isso no sentido de promover a integralidade de nossa luta, numa perspectiva de garantia de direitos das diversas vozes que o movimento AIDS congrega em sua identidade.
O grupo que aprofundou a discussão sobre Direitos Humanos e Vulnerabilidade no Contexto de AIDS no Nordeste levantou seguintes reflexões:
- importância de fortalecer a discussão sobre a epidemia da AIDS na região nordeste ressaltando o debate dos direitos humanos, vulnerabilidade, índice de analfabetismo, pauperização;
- a reforma política como importante debate a ser construído pelo movimento de luta contra AIDS;
- a importância da garantia de recursos no PAM e outros planos para garantia da execução dos Planos de enfrentamento a feminização da AIDS, Gays, HSH e travestis, saúde e prevenção nas escolas;
- construir estratégia para influenciar políticas públicas para garantia de acesso a educação básica e continuada a jovens vivendo com HIV/AIDS;
- fortalecer a luta a favor laicidade do Estado;
- lutar contra projetos que criminalizam as pessoas vivendo com HIV/AIDS
SAÚDE INTEGRAL DAS PESSOAS VIVENDO COM HIV E AIDS
Diante do sucateamento da política de saúde, principalmente a diminuição dos recursos para AIDS, muitas questões ainda afetam de forma direta as pessoas que vivem ou convivem com o HIV/AIDS. Algumas dessas questões e dificuldades são antigas, mas ainda são fundamentais para o movimento AIDS atuar e pressionar os governos, em busca de soluções para esses problemas. Entre os quais destacamos:
• a Lipodistrofia, com a falta de hospitais de referências e equipes multidisciplinar;
• a falta de leitos nos hospitais públicos e na rede complementar conveniada ao SUS;
• a falta de medicamentos (incluindo os voltados para as doenças oportunistas) que são provenientes dos problemas de licitação e mal planejamento;
• a oferta do teste rápido, sem uma estrutura adequada de acolhimento, aconselhamento, assistência e encaminhamento para o serviço;
• a demora na realização de exames e consultas, assim como de serviços para os mesmos;
• a falta de uma política de habitação adequada, que contribui para que as pessoas que vivem com HIV permaneça e estejam mais vulneráveis a co-infecções (entre elas tuberculose e hepatites);
• a carência de recursos dos municípios, principalmente os localizados no interior;
• a ausência de políticas sociais que amplie e fortaleça as casas de apoio, para população vivendo com HIV e AIDS em situação de rua;
Refletimos também que os PAM (Plano de Ações e Metas), ainda não garantem a real necessidade de ações eficientes que atendam essas demandas acima relacionadas. Nas discussões e debates sobre o PAM, mesmo com a presença das Organizações Não Governamentais, o debate ainda é voltado para uma analise sobre os casos notificados e as ações incluídas no plano não respondem efetivamente, nem refletem a política que afirme a importância de ver as pessoas vivendo com HIV e AIDS em sua integralidade.
É necessário fazer a articulação entre a política de redução de danos e a rede de atendimento as pessoas que vivem com HIV e AIDS, que são dependentes do álcool e outras drogas (principalmente o Crack). Também ressaltamos que o baixo investimento em pesquisas sobre os efeitos colaterais da medicação/drogas no tratamento das pessoas que vivem com HIV e AIDS (como já mencionado), tem haver com esse debate e por isso precisamos nos fortalecer nesse campo, pois redução de danos precisa ser aprofundada no interior do movimento AIDS.
Devemos fazer uma atuação de forma eficaz e com metas definidas, metas que considerem o fenômeno da pauperização da epidemia e as vulnerabilidades sociais constantes; que sejam amplamente garantidas as contrapartidas dos governos locais; que se garantam nos PAM estaduais os 10% dos recursos que devem ser destinados para as ações da sociedade civil; que as políticas sejam construídas coletivamente com a Sociedade Civil; que estejam previstas nos orçamentos nacionais e locais recursos orçamentários adequados e que sejam devidamente acompanhadas e monitoradas para evitar a má aplicação de recursos destinados às ações para enfrentamento a AIDS.
O grupo responsável pelo aprofundamento dessas discussões acrescentou algumas reflexões orientadoras para atuação do movimento de luta contra AIDS na região nordeste, no que se refere:
- ações de Direitos Humanos a fim de reduzir o estigma, exclusão e isolamento das PVHA na sociedade;
- fortalecimento das PVHA para que as mesmas se sintam acolhidas a ponto de assumir sua sorologia;
- advocacy com o legislativo, no intuito de criar uma lei federal para garantir os direitos relacionados com o transporte (passe-livre) para PVHA, em áreas interurbano-metropolitanas e na área intermunicipal/interestadual;
- a inserção e priorização das PVHA em situação de vulnerabilidade e risco social nos “Programas de Moradia Popular” e “Bolsa Família” do Governo Federal, com ênfase na inclusão social;
- políticas públicas de inclusão social para pessoas vivendo com HIV e AIDS em situação de rua, travestis e transexuais;
- a necessidade de garantir espaços de acolhimento para PVHA em situação de rua e contribuir na divulgação destes serviços;
- acessibilidade para PVHA com deficiências portadoras, seja na área de saúde, educação, transporte, apoio social;
- promoção de uma maior integração entre os programas de HIV e AIDS, Tuberculose e Hepatites Virais, pela relevância da incidência de casos de co-infecção entre estas patologias nas PVHA;
- a política de atenção integral a saúde do homem contemple ações que abranjam PVHA;
- ações articuladas entre a política da Saúde e Direitos Humanos/Justiça voltadas para população prisional vivendo com HIV/AIDS e TB, com ações de saúde integral (Tratamento e Assistência), sem segregação e isolamento;
- garantia dos Direitos Sexuais e Reprodutivos das PVHA, efetivando assim o direito à maternidade e paternidade através do cumprimento da Portaria sobre “Reprodução Assistida” do Ministério da Saúde;
- disponibilização de leitos de internamento e UTI com referência para PVHA;
- sensibilização de Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais e outros profissionais na temática sobre “Vivência Soropositiva para o HIV/AIDS”.
- a efetivação da Saúde Integral para PVHA, para além da medicalização do corpo, com acesso à educação, moradia, transporte, apoio social, lazer (dentro das suas especificidades);
- implantação e reativação dos Grupos de Apoio (Ajuda - Mútua) para PVHA, em serviços de referência e ONG: promoção de acolhimento, socialização e apoio psicológico;
- Meios de Prevenção nos serviços para Lipodistrofia, através de atividades físicas específicas, fisioterapia, terapia ocupacional, arte-terapia, entre outros;
Ressaltamos que a Carta dos 9/2011 produzida no IX ENCONTRO REGIONAL DE ONG e Movimentos Sociais de Luta Contra AIDS do Nordeste (ERONG/NE) é um documento orientador, onde procuramos sistematizar as diversas vozes presentes no movimento AIDS e acreditamos que essa carta pode ser um importante norteador para fortalecer nossa luta.

Aracaju, 15 de Julho de 2011.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Mais Poesias


PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 25 de outubro de 2011







Audiência pública na Câmara discute a Lipodistrofia


Lipodistrofia é o nome dado para uma coleção de mudanças no corpo, que são vistas em pessoas que utilizam medicamentos anti-HIV. Lipo se refere à gordura, e distrofia significa perturbação grave, ou crescimento ruim. Essas mudanças são mais comuns em pessoas quem estão fazendo terapia antivirótica. Assim, a Lipodistrofia significa alteração na gordura, causando o acúmulo ou perda de gordura em áreas localizadas no corpo.
Em 1996, iniciou-se o uso, em larga escala, de uma nova classe de Anti-Retrovirais para o tratamento da AIDS, os Inibidores da protease. Estas medicações deram um novo impulso ao tratamento desta doença, pois permitiu a introdução do "HAART" (Terapia Anti-Retrovial de Alta Potência) e, com isso, a redução drástica dos casos de morte por AIDS.
Paralelo ao tratamento começou a surgir os primeiros efeitos colaterais dessa terapia. Dentre eles, a Lipodistrofia.
Atualmente, prefere-se denominar este quadro como Síndrome redistribuição de Gordura, pois além das áreas de acúmulo e perda de gordura, ocorrem também alterações metabólicas, como o aumento de triglicerídeos e colesterol, diabetes, osteoporose, dentre outras. O Grupo de Amigos na Luta contra a SIDA pela Qualidade de Vida - ASQV, vem ao longo de uma década lutando para efetivar o tratamento das pessoas que estão vivendo a experiência de viver com a LIPODISTROFIA, sofrendo os males decorrentes dessa patologia, que não somente autera a estrutura corpórea, mas ainda causa outros males em sua vida emocional, como fragilização da autoestima que vem se manifestando com a depressão, o denânimo, a vontade de desistir de lutar pela vida. A luta na busca da efetivação dos contratos de parceria com os hospitais de referências para a realização tanto da reposição do metalacryl quanto das cirurgias reparadoras para corrigir as deformações corporéas que não somente auteram a forma dos corpos, como também causam danos físicos. Na intensão de ajudar o ASQV nessa caminhada foi que a Vereadora Aline Mariano (PSDB) presidiu na manhã do dia 13 de setembro de 2011, no plenarinho da Câmara, uma audiência pública para discutir o direito dos pacientes HIV/AIDS com Lipodistrofia ao acesso a tratamento em hospitais públicos. “Lei que garante assistência a esses portadores pelo Sistema Único de Saúde já existe. Também existe uma portaria do Ministério da Saúde em vigor desde 2004”, afirmou a vereadora. A Lipodistrofia, acúmulo ou perda de gordura em áreas localizadas do corpo como barriga, costas e pescoço, é um efeito colateral causado por medicamentos usados contra o vírus da AIDS. O tratamento é cirúrgico e custa caro. Pode chegar a quinze mil reais dependendo do caso e não é oferecido no serviço público de saúde em Pernambuco. Nessa audiência foram formadas uma mesas para discussão e debate do. Essas mesas foram formadas por pessoas como Wandilza França, presidente do Grupo ASQV pontua que os pacientes com Lipodistrofia se isolam, entram em depressão e tentam o suicídio. “Queremos que o poder público nos garanta o que é nosso direito. Não pedimos só os medicamentos, mas respeito e qualidade de vida” desabafou D. Wandilza França, fundadora dessa luta.
François Figueiroa, coordenador estadual de DST-Aids, garantiu na sua fala que no máximo até o começo de outubro o Hospital Osvaldo Cruz e o IMIP já estarão realizando as cirurgias. Levantamento do Governo do Estado mostra que Pernambuco tem mais de 15 mil portadores do HIV e a cada ano outras 950 pessoas contraem o vírus no estado. Boa parte desses pacientes desenvolve a Lipodistrofia.
Na audiência pública também foram discutidos os efeitos da Lipodistrofia nos pacientes. “Preconceito, discriminação, morte civil, perda do espaço profissional e da vida afetiva”, descreveu a psicóloga Tânia Tenório. O aposentado Wilson Júnior viveu esse drama. Ele sofreu com a Lipodistrofia, mas passou por cirurgia e recuperou a auto-estima. “Eu não queria sair de casa, me isolei de todos, entrei em depressão. Tudo mudou com a cirurgia”, afirmou Wilson.
Na sua fala, a vereadora Aline Mariano afirmou que vai continuar a se dedicar ao problema. “Não vou parar por aqui. Pretendo levar essa luta que é a defesa dos direitos dos pacientes com Lipodistrofia à Assembléia Legislativa e ao Congresso Nacional.
As causas da Lipodistrofia são multifatoriais. A princípio, achava-se que era um efeito colateral dos inibidores da protease, mas hoje se sabe que o próprio HIV e outros medicamentos utilizados para o tratamento da AIDS também contribuem para o aparecimento e agravamento desta síndrome, além de outros fatores como a idade avançada e longo tempo de uso dos Anti-Retrovirais.

Mais uma Poesia



AMO

Amo a terra! Amo o sol! Amo o céu! Amo o mar!
Amo a vida! Amo a luz! Amo as árvores! Amo
a poesia que escrevo e entusiasta declamo
aos que sentem como eu a alegria de amar!
Amo a noite! Amo a antiga palidez do luar!
A flor presa aos cabelos soltos de algum ramo!

Uma folha que cai! Um perfume pelo ar
onde um desejo extinto sem querer inflama!
Amo os rios! E a estranha solidão em festa,
dessa alma que possuo multiforme e inquieta
como a alma multiforme e inquieta da floresta!
Amo a cor que há nos sons! Amo os sons que há na cor!
E em mim mesmo, – amo a glória de sentir-me um Poeta
e amar imensamente o meu imenso amor!…
(Araujo Jorge)