quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dissertação do Meu Mestrado

QUANDO NEGATIVO É MELHOR QUE POSITHIVO -
um estudo sociológico das Experiências Identitárias
de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS em Recife

INTRODUÇÃO

A AIDS na contemporaneidade se configura em um grande flagrante na sociedade. Seu advento traz embutidas questões de teor diverso, denunciadoras do modus vivendis das populações, tais como: formas de organização social; construção, compreensão e representações da realidade social empírica; redimensionamento das práticas de vida, a partir das leituras e apropriações dos textos com os quais vão se deparando na sua cotidianidade e no reordenamento das vivências.
Surgindo numa realidade histórica em que as grandes epidemias são dadas como erradicadas, pelo menos nos países desenvolvidos, a AIDS pôs em estado de inteira perplexidade toda a sociedade global, desdobrada nos seus diversos segmentos. A exemplo disso, poderemos citar algumas instituições sociais como o Estado, a ciência-médica, a família, a religião, o trabalho, e outras.
No trato dessa temática da AIDS se faz necessário, portanto, apreender as particularidades inerentes ao fenômeno que o tornam diferente de outros já ocorridos, como por exemplo, as grandes epidemias que assolaram o mundo: Peste Negra, Gripe Espanhola, Tuberculose, etc. Essas particularidades, que são bastante significativas, estão relacionadas às práticas de vida dos indivíduos no campo social e pessoal, identificadas como anormais, em alguns casos, por estarem dissociadas dos padrões éticos da moral social convencional não reconhecidos como componentes do padrão “normal” de vida social. Muitas delas eram vivenciadas numa atitude que se pode cognominar de clandestinidade, e que só começaram a fluir a partir da AIDS.
O tema da nossa pesquisa: “AIDS, gênero, exclusão: na redefinição da identidade dos indivíduos portadores”, nasce do nosso envolvimento com a problemática do fenômeno AIDS, num período em que estive em contato com outras pessoas que atuavam junto a essa questão, bem como com pessoas portadoras e seus familiares. Através desses contatos, de leituras de artigos em periódicos: jornais e revistas - alguns citados em nosso referencial bibliográfico, livros e filmes que assisti, me foi possível construir idéias, formalizando, assim, este tema.
A AIDS, desde a sua notificação no Brasil, no início da década de 1980, despertou a atenção de muitas pessoas. Pesquisadores, representações de grupos, iniciaram as lutas, para fazer frente à epidemia da AIDS.
Em Face De todo o mistério que envolveu o surgimento da AIDS, foram-se desenvolvendo paralelo a ele, alguns estudos e pesquisas, e também publicações, e campanhas esclarecedoras à população, na tentativa de se deter tal fenômeno.
No palco da produção do conhecimento, foram surgindo intelectuais, profissionais da saúde, representações governamentais e não governamentais, levantaram suas vozes para fazer ecoar o seu grito de alerta a todo o mundo.
Sendo a AIDS o fenômeno que se materializou na vida orgânica dos indivíduos, pondo-os no confronto direto com a sua finitude, com a idéia da morte iminente, e ainda, com o enfrentamento dos resultados de suas práticas de vida, na discussão do nosso tema, nos deparamos com categorias analíticas, implícitas a sua vida pessoal, social e cultural. Essas categorias são imbricadas de tal forma, que é quase impossível discutir AIDS, sem o confronto imediato com elas. Isto porque, tratar da questão do gênero significar tratar da vida afetiva das pessoas, dos papéis sociais por elas exercidas enquanto representantes da categoria masculina e feminina, sem ignorarmos aqui que, o trato da questão gênero não se encerra apenas nesses papéis. Gênero também se define na questão cultural das relações humanas, e no simbolismo do mundo dos significantes e significados. Tomando como referência o trabalho de Socorro Duarte (1996: 26), “A AIDS precisa ser vista no cotidiano dos indivíduos sob a ótica das questões de gênero, de classe social, de raça e de etnia que significam respectivamente os espaços ocupados por eles em sua realidade cotidiana”.
Além de estarmos plenamente de acordo com esta autora, vamos ainda mais adiante, para fortalecer o seu pensamento, dizendo que: se não tratamos do fenômeno por estas perspectivas, por quais trataríamos, visto que é na vida das pessoas, que estão por sua vez inseridos nos guetos sócio-culturais, que a AIDS se manifesta, se instala e os coloca em estado de plena vulnerabilidade em face de sociedade?
No que concerne ao subtítulo do nosso tema: “na redefinição da identidade dos portadores”, argumentamos que, primeiro: ao tratarmos da Aids tratamos da vida biopsíquica e social dos indivíduos, que significa, sua mundivisão, suas opções de vida afetiva e sexual, suas incertezas quanto ao futuro, sua escala de valores, e o reconhecimento de seu status, que segundo alguns relatos de profissionais que atendem pessoas portadoras e delas próprias, são tudo posto em questão (et. Camargo, 1994). Os indivíduos, após o diagnóstico médico da sua infecção por HIV - AIDS são postas num estado de muita incerteza, o que as leva a buscarem o sentido, que parece perdido, para a existência, definindo prioridades nos diversos campos de suas vidas, voltando a se inserirem nos campos sociais, assumindo novas posturas de vida.
A priori, esta é a explicação que consideramos necessária dar, situando essa questão da AIDS e do nosso tema de pesquisa. Na construção do problema e do referencial teórico retomaremos essa discussão, procurando definir melhor como essas questões poderão ser discutidas nas perspectivas de teóricos que tratam da análise conceitual dessas categorias.
Neste momento iremos notificar algumas produções relevantes sobre a AIDS aqui no Brasil, que têm contribuído significativamente no combate a essa epidemia. Os estudos sobre o HIV-AIDS tiveram seu início oficial aqui no Brasil com a atuação do Ministério da Saúde que criou um grupo de trabalho para planejamento e execução de tarefas para tratamento e prevenção da epidemia da AIDS, em 1988; o chamado: “Programa Nacional de DST/AIDS”, ou “Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS”. Esse programa constou de duas partes: a primeira faz uma análise do território nacional geográfica e socialmente, analisando a situação da saúde no Brasil, a organização do sistema de atenção a saúde, o financiamento do setor saúde, a infecção pelo HIV e explicando o Programa Nacional de Controle e Prevenção, seus objetivos e as etapas que deveria ser desenvolvidos. Esse programa foi tomado como referência básica por todos os secretários de saúde estaduais e municipais, para elaboração dos seus programas locais.
Atualmente possuímos aqui no nosso Estado oito locais de referência para atendimento das pessoas portadoras, entre hospitais e centro de assistência social, e serviço de informação sobre o HIV-AIDS.
Na produção do conhecimento, contamos com a sua expansão em várias instâncias sociais: as ONG’s que atuam individualmente e também em parceria com os programas dos governos locais.
No que tange as ONG’s, em caráter nacional temos: a ABIA (associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS). Organizada em 1982, sob a presidência de Herbert de Souza. Contando com a colaboração de uma equipe interdisciplinar a ABIA tem como finalidade promover a educação e a informação para o controle e a prevenção da epidemia do HIV-Aids. Temos ainda o grupo Pela Vida (Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de AIDS). Esta ONG se constitui basicamente por pessoas portadoras, seus familiares e amigos. Este grupo atua com franquia de seu slogan em vários estados do Brasil, além do Rio de Janeiro, onde se originou, está em São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Vitória/ES, Goiás, Cascavel - Paraná. Atua com prevenção e intervenção jurídica. Dentre essas duas ONG’s, temos muitas outras que trabalham incansavelmente, que no momento nos é impossível citar as referências.
Na cidade do Recife, podemos enumerar algumas ONG’s que atuam expressivamente, são elas: a ASAS (Associação de Ação Solidária) criada em 1992, que atua na intervenção, através de uma equipe multiprofissional, e atende também aos familiares; o FORUM AIDS e a GESTOS, dentre outras.
Na produção acadêmica nacional, dentre outros, temos o IMS - UERJ (Instituto de Medicina Social do Rio de Janeiro), a FUMCAMP (Fundação de Desenvolvimento da Universidade de Campinas - São Paulo), o Hospital Emílio Ribas que é considerado como o maior hospital de referência do país a tratar as doenças patológicas da AIDS.
O nível local tem o NEPA do HC-UFPE (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre AIDS), temos o Hospital Correa Picanço e o Hospital Oswaldo Cruz - UPE.
Contamos ainda com a produção acadêmica nos programas de pós-graduação da UPE e UFPE. Destacamos dentre tantas outras produções, os trabalhos de Socorro Duarte sobre “AIDS e Gênero na união conjugal”- Mestrado de Serviço Social (1996) e; de João Alberto sobre “Sexo/Pecado/Punição. A AIDS entre nós”, Mestrado de Antropologia.
Considerando, pois, já toda a produção sobre a AIDS, a exemplo do citado aqui, e a toda a outra do qual ainda não tomamos conhecimento, pretendemos também desenvolver nossa pesquisa sobre o assunto, na tentativa de dar nossa contribuição no trato desse fenômeno, procurando trazer à discussão aspectos ainda subjacentes, ou até mesmo reconhecidos, porém não aprofundador.
Desse modo, o que interessa pesquisar e que pensamos ser inovador na questão AIDS, não está definitivamente nas categorias proponentes do tema, e sim no estudo sociológico que intentaremos produzir sobre o fenômeno, buscando inserir a abordagem sociológica como contribuição interpretativa e reveladora, na análise dessa epidemia, já definida como um fato social global. Para uma melhor compreensão dessa questão global, veja Parker, 1994.
O que justifica a nossa pesquisa, pois, não é a pretensão de produzir mais um trabalho sobre a AIDS, para ser lido como algo inovador, elaborado em função da pungência do novo que essa epidemia desvela, mas sim tratar de um assunto que por dizer respeito a todos, também diz respeito à sociologia, e sem receio de estar entrando numa seara alheia.
Advogamos ainda, que, até pela razão de ser a ciência que estuda os comportamentos sociais dos indivíduos é de sua inteira competência tratar dessa questão, sendo este um dos fatores que também justifica nosso estudo.
Sendo assim, nossa pesquisa se justifica na perspectiva de que, em função da análise sociológica da condição de vida em que são postos os indivíduos pela sua infecção por HIV-Aids, sejam discutidas mudanças nas relações entre esses atores e os outros, não infectados, na intenção de propor a superação das diferenças, postas no trato dessas pessoas.
Questões como: a exclusão social, a perda de sentido da vida, os papéis sociais, a condição de gênero, a nova identidade cultural, social e pessoal, deverão ser tomadas como propostas para explicar os comportamentos dessas pessoas, e propor formas de vida diferentes, livres de preconceito moral, social e sexual vigentes. Até porque, cremos que pode ser a partir dessas mudanças, que a AIDS possa ser liberta de todo o estigma que lhe impuseram, e começar a ser vista e tratada sob outros olhares, dando outros resultados.
Faz-se urgente, pois, um somatório de esforços para alcançar essa nova realidade: a cura, o descobrimento de uma vacina que instaure nos portadores a alegria e a esperança pela vida, por um lado, e, por outro, um amplo investimento em programas de prevenção, afetiva e eficaz, que contribuam para o retorno do pensar o futuro sob outras perspectivas.
As particularidades das vivências das pessoas a que estamos nos referindo, materializam-se na cotidianidade de forma contundente e são cristalizadas pelos tipos de vida e pelos modos como elas se inscrevem nos campos sociais: grupos de pertença, lugares que freqüentam hábitos de vida diferenciados, e outros, aspectos que no momento não aprofundaremos, pois, são questões que serão mais bem identificadas e desenvolvidas posteriormente. Numa primeira instância, nossa pretensão é unicamente situá-las no cenário da temática em discussão: a redefinição da identidade individual e coletiva das pessoas vivendo com HIV-AIDS.
O PROBLEMA
A AIDS nos proporciona um momento histórico de profundas reflexões. Surgindo numa realidade social hedônica, em que o homem moderno aumentou a sua longevidade, pondo a idéia da morte cada vez mais distante de si, a AIDS aparece se inscrevendo no cenário social como um fato real e concernente a todos.
Segundo Carmargo (1994), a AIDS é a epidemia que, no final do século XX, tem representações semelhantes à tuberculose, ao câncer, e traz acrescida as categorias de ser sexualmente transmissível, de uma ação lenta do agente etiológico e da existência de um portador sadio.
Segundo a autora acima citada, quando as grandes epidemias, a exemplo da febre amarela, da varíola, etc., foram controladas, ou foram fracamente endêmicas, sempre surgiram outras, como a gripe espanhola que afetou continentes inteiros -1918 a 1919-, trazendo grande mortalidade para todo o globo. A tuberculose foi outra dessas epidemias de caráter infeccioso. Considerada a doença do século XIX e do início do século XX, e que só foi identificada após dizimar muitas vidas e após longo trabalho de investigação. Pela crueldade de seus danos ela foi tida como uma peste da urbanização, da industrialização e das precárias condições de vida do proletariado (Idem).
No limiar do final do século XX, surge a AIDS como a exterminadora do presente. Traz consigo o pânico da morte, o confronto com os limites humanos, com a redefinição do tempo da vida, ao mesmo tempo em que possibilita uma visão mais abrangente da mesma.
A epidemia da AIDS é formada por um conjunto de fatores que a definem e explicam de modo bastante complexo, o que, até hoje, ainda não é compreendido por um grande contingente da população. Isto pode ser justificado pelo modo como foi difícil para a própria ciência médica diagnosticar a etiologia da virose que se pressupunha, à época das primeiras investigações, serem causadoras daqueles óbitos.
As primeiras notícias sobre a AIDS chegam dos Estados Unidos em 1981, através de um órgão governamental americano: Center for Disease Control. Cidades como a Califórnia e Nova Yorque atestavam mortes de jovens e adultos masculinos que tinham em comum a homossexualidade e que ocorriam de forma inusitada, combinando raros tipos de cânceres com pneumonias comuns. Esses casos foram descritos como estados de imunodeficiência. Ou seja, uma diminuição dos recursos orgânicos tradicionalmente requisitados para manter o corpo “imune” às infecções (CAMARGO JR., 1994).
A epidemia da AIDS é, portanto, uma doença nova, tendo sido diagnosticada no princípio dos anos 80, pelos franceses e americanos. O termo “AIDS” é uma sigla originada do nome inglês: “Acquired Imune Deficiency Síndrome”, que se traduz por: “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida” (em português se chama SIDA). O termo síndrome significa um conjunto de doenças que se manifesta em várias formas de mal-estar que aparecem juntas. No caso da AIDS, esse conjunto de doenças e sintomas pode ir de diarréias e vômitos, a gânglios inchados, sarcoma de kaposi (que é um tipo de câncer visível em doenças epidérmicas - manchas vermelhas-), e outras patologias como, doenças respiratórias, tuberculose, herpes, toxoplasmose, perda de peso acentuada e outros. Isto é, são sintomas e doenças conhecidas que, isoladamente, não seriam tão problemáticas, nem letais, como no contexto da AIDS (Informativo ABIA, 1994).
Nesse parecer, a sigla AIDS ou SIDA, se constitui num conjunto de termos, onde cada um deles possui o seu conceito próprio dentro da ciência biológica. São eles: Síndrome, Imunodeficiência e Adquirida.
Sendo assim, passaremos a explicar o significado de cada um desses termos, no intento de facilitar a compreensão da síndrome AIDS. Até porque, a não compreensão desses termos, se configura na grande dificuldade das pessoas apreenderem a gravidade da infecção pela AIDS.
O termo Imunodeficiência configura-se na falha das defesas do organismo. Uma doença que seria simples e até inofensiva numa pessoa saudável, no caso da AIDS assume um caráter complexo e de riscos significativos.
O conjunto celular do corpo é definido pelos cientistas como o “sistema imunitário”. Esse sistema é uma massa de tecidos e células espalhadas por todo o corpo. A organização desse conjunto de células funciona de modo a proteger o corpo de infecções. A AIDS é, pois, a doença do sistema imunitário, assim como a hepatite é a doença do fígado, a gastrite é a doença do estômago, etc. Portanto, com o sistema imunitário comprometido -em imunodeficiência- as infecções podem se tornar muito graves, mais do que realmente são. Essas infecções que se aproveitam das falhas do sistema imunitário são chamadas de infecções oportunistas (Idem).
O termo adquirida diz respeito ao aparecimento dos primeiros casos de AIDS. Segundo os patologistas, as doenças do sistema imunitário são raras. Algumas pessoas nascem com elas, outras as têm por razões desconhecidas, ou ainda, porque fizeram transplante, etc. Todavia, uma doença imunitária em caráter de epidemia, atingindo comunidades inteiras é algo inédito! A imunodeficiência é, em algum momento, “adquirida” pela pessoa.
Desse modo, a AIDS é uma doença imunológica, resultante de uma infecção por um vírus que é transmissível em circunstâncias determinadas de troca íntima de fluidos do corpo. Esta troca pode se dá através do ato sexual, da transfusão de sangue, da gestação, do nascimento e da amamentação (Idem).
O HIV é um retrovírus, o que significa que a sua forma de vida é a mais simples, arcaica e bruta. Tem curta duração de vida, morrendo rapidamente se forem mantidos por quinze minutos, mais ou menos, numa temperatura de 50ograus centígrados. Morre também ao contato de alguns minutos com vapores de formol, hipocloreto de sódio, ou outros (Idem). HIV significa Human Imunedeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana). Trata-se de um vírus que possui características muito particulares e por isso pode passar, e, passa despercebida, por muito tempo no corpo dos seres humanos, sem se manifestar, ou então o faz num período de nove meses até seis anos. Infecta de modo lento, não apresentando sintomas de contágio. A transmissão ocorre através do contato íntimo de pessoas portadoras por via de relações sexuais, ou outros contatos dos líquidos orgânicos.
O sistema imune é o alvo do assalto do HIV. O vírus é um parasita que invade e se apropria, de preferência, da máquina genética de uma célula crítica do sistema de defesa humano: a chamada T auxiliadora, que tem como função incentivar as células que fazem os anticorpos e ajudam a controlar as infecções por fungos e bactérias. Para poder entrar na T auxiliar, o vírus HIV utiliza proteínas que ficam na superfície dessa célula, em particular a chamada CD4 (LEPARGNEUR, 1987). Em vez de transformar as células e multiplicá-las, como no câncer, este vírus destrói o linfócito T-4, que é a chave do sistema imunológico.
Portanto, dentro dessa discussão da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida se distinguem dois estágios: um de soropositividade e, outro, de doença da AIDS. Esses são estágios diferenciados em que alguém pode ser um soro positivo assintomático por muito tempo, ou então, alguém já está com a manifestação dos sintomas da doença, é o que se considera como o estado avançado da infecção por HIV-AIDS. Essa é uma fase bem mais delicada na vida das pessoas, visto que elas se confrontam com a sua própria existência, a sua vida íntima e seus referenciais sociais na coletividade.
Diante do que está posto acerca dessa epidemia, fica notório que a AIDS se diferencia de outras já ocorridas no mundo por sua patogênesis: a AIDS é uma doença do sistema imunológico. Ela é adquirida pelo vírus HIV que ataca esse sistema celular e o enfraquece, levando as pessoas por ela alcançadas à morte. Esta é a constatação a qual tiveram, e ainda terão que chegar, as populações do mundo.
Frente ao exposto, um questionamento significativo se impõe, pois, mesmo sendo mais uma epidemia, a AIDS se diferencia muito das outras. Sendo assim, o que é que torna a AIDS tão diferente, o que há de subjacente a essa condição de epidemia que a torna tão apavorante, porque se tem tanto temor a AIDS?
De princípio, podemos afirmar que a AIDS se configura num fenômeno marcado por estigmas, o que pode ser facilmente verificado fazendo-se um resgate do período de seu surgimento. Caminho que pode apontar as respostas para essas e muitas outras questões.
Alguns estudiosos do assunto, pelo menos aqui no Brasil, tais como médicos especialistas em patologias diferentes como, os psiquiatras, infectologistas, e outros profissionais pesquisadores que também atuam junto a vida emocional e social das pessoas como, as assistentes sociais, psicólogos, antropólogos, sociólogos, e demais, são unânimes em constatar que algumas das razões que explicam o estigma dessa epidemia estão calcadas em alguns conceitos utilizados para divulgação da AIDS. Esses conceitos dizem respeito ao modo como ela foi notificada, através da mídia, para o globo: “uma peste dos culpados” (PARKER, 1994). A AIDS era uma doença de “grupos de risco”. Esses grupos se dividiam em “vítimas” (hemofílicos) e “promíscuos” (homossexuais, prostitutas, viciados em drogas). Durante mais de dez anos, as idéias sobre esse fenômeno foram as mais distorcidas possíveis. Falava-se muito mais na pessoa que estava doente, do que na própria doença. Essas pessoas chamavam mais a atenção do que a doença (PAIVA, 1992).
Outra explicação pode ser dada considerando que a constatação da infecção pelo HIV-Aids coloca as pessoas numa situação de completa vulnerabilidade face aos desvelamentos que essa condição provoca. E ainda, porque essa condição de portador do HIV-Aids implica na inserção dessas pessoas nos grupos de indivíduos definitivamente marcados no seu meio social.
A condição de marcado pelo HIV-Aids é a condição de pessoa estigmatizada. Aqui se faz necessário uma rápida explicação sobre esse fenômeno estigmatizado. Na perspectiva do teórico Ervening Goffman (1988), que no seu trabalho discute a condição social em que são postas as pessoas quando guardam em seu corpo físico, ou moral, sinais ou marcas, que os distinguem dos demais e por conta disso se encontra numa condição de inaptas para o convívio em sociedade. Segundo o autor, o estigma é, pois, um tipo especial de relação entre o atributo e o estereótipo. Ou seja, o estigmatizado é o sujeito inserido no convívio da sociedade, com seu conjunto de normas e valores, mas que se destaca porque possui uma marca física, ou patologia social, sem desconsiderar a estrutura social e moral da sociedade. Em função dessas suas condições, o estigmatizado necessitará assumir posturas de vida que possibilitem continuar inserido nos contextos sociais.
Sendo a AIDS o fenômeno social que pôs as claras à intimidade dos indivíduos, nas suas práticas sexuais, culturais, afetivas, bem como a própria sociedade nas suas representações institucionais: por exemplo, a ciência médica, das políticas de saúde, do uso do sangue transferido, ela pode ser lida como a epidemia que possibilitou os estigmas à vida dos indivíduos.
Portanto, no que concerne ao nosso tema de pesquisa, onde nos propomos investigar a redefinição dos portadores do HIV-Aids, tomaremos a condição de portador como nossa variável independente, bem como fixaremos nosso olhar nos modos como estão inseridos esses indivíduos estigmatizados, em função da sua representação de gênero e da interação nos campos institucionais e culturais, e também na sua vida emocional.
Sendo assim, na perspectiva da problemática AIDS exposta até aqui, que aponta para a necessidade de um repensar da vivência e a necessidade de uma reconstrução da vida após um diagnóstico médico da infecção a pergunta que se impõe é a seguinte: Como os portadores do HIV-Aids redefinem as suas instâncias identitárias? Considerando, também, que a condição de portador é a condição de pessoas estigmatizadas social, cultural e moralmente, perguntamos como a condição de gênero influi na construção de novas identidades; e como os indivíduos se redefinem em função da exclusão social que sofrem?
Para tentar responder a tal questionamento levantamos as seguintes pressuposições, que tomamos como hipótese central e sub-hipóteses.
Hipótese Central:
A condição de portador do HIV-Aids desencadeia um processo de redefinição da identidade tanto na perspectiva institucional-cultural, como emocional.
Sub hipóteses:
1) A nova identidade de portador é em parte determinada pela condição de gênero;
2) O indivíduo é excluído social e culturalmente, em função da sua condição de portador.
Nesse sentido, nosso objetivo com a realização deste estudo se materializa em duas intenções: a primeira, que identificamos como o objetivo geral, é analisar a redefinição da identidade dos indivíduos portadores do HIV-AIDS. A segunda, que se constitui em nossos objetivos específicos, é:
a) identificar as novas identidades construídas pelos portadores, e a sua significação institucional-cultural na condição de gênero.
b) analisar a rejeição e a exclusão social sob que os portadores são postos.
c) contribuir, com a análise sociológica do fenômeno AIDS, para a explicação dos contextos da realidade social em que são postos os indivíduos na sua condição de portador.
Somos do pensamento, como outros autores (Camargo Jr., 1994) que tomou o fenômeno da Síndrome da AIDS, reconhecer nele construções metodológicas categorizavam a partir do enfoque sociológico é o grande desafio a que nos estamos propondo, ao tempo que não negamos a sua característica de doença muito grave, que demanda um trato terapêutico intensivo, como até poderiam pensar algumas pessoas, e sim, abre a expectativa para a discussão dessa temática no âmbito novo da ciência, fato que poderá se constituir numa contribuição significativa para o vislumbramento das soluções eficazes para o problema.
REFERENCIAL TEÓRICO
No trato do tema da nossa pesquisa, onde nos propomos a investigar as representações sociais e imaginárias das pessoas portadoras do HIV-AIDS, que pressupomos se expressam a partir da condição de pessoa doente ou portadora, quando do diagnóstico médico, encontramos os indivíduos no confronto direto com a necessidade de redefinição de sua identidade, tanto no que tange a sua individualidade, quanto a sua coletividade, seus grupos de pertença.
As representações sociais e imaginárias já construídas, pressupomos, passam por uma desconstrução e uma nova construção. Se eles já tinham todo o seu conjunto discursivo, interpretativo de uma dada realidade social e do seu papel de indivíduos, pressupõe-se que, após essa nova condição de vida, eles buscam novas interpretações, criam outros símbolos e outras imagens, o que nos leva a crer que seu campo psicossocial e a sua inserção no seu contexto institucional, passa por mudanças profundas. O mundo de significados e significantes muda.
Dar um novo sentido a vida é a necessidade com a qual todos se deparam. Sentimentos de ordens diversas emergem, os laços sociais são estremecidos, os laços afetivos se quebram, ou se fortalecem. A crise de solidão é intensa, e como conseqüência nasce a insegurança quanto ao futuro. É justamente a partir desse estágio que nasce a necessidade de uma redefinição das instâncias identitárias. No plano individual e no plano da coletividade nova representações sociais e imaginárias nasceriam.
Portanto, em nosso estudo sobre representação social e imaginária e AIDS, fixaremos o nosso olhar com mais intensidade na tentativa de identificar quais são as representações sociais da AIDS construídas pelas pessoas portadoras, destacando o modo como o fazem, em função das experiências já vivenciadas, do diagnóstico-médico da sua nova condição de vida: pessoa portadora ou doente de AIDS.
Apesar de existir muitas outras formas para abordar esse tema no que diz respeito às formações sociais, as características pessoais, aos tipos de postura na opção de vida e muitas outras, optamos por investigar as características psicossociais.
Certamente não há nada subjacente a essa escolha, a não ser o interesse premente de aprofundar melhor o estudo quanto a essa nova pandemia. E, ainda, porque entendemos que o trato desse tema é algo bastante delicado, e que somente indo diretamente à população portadora é que obteremos os dados com segurança quanto a sua veracidade.
Somos do pensamento, como tantos outros autores (Schuch, 1996), de que abordar este tema torna-se relevante por muitas razões e, muito especialmente, porque essa síndrome, que vem atingindo um número crescente de pessoas nos seus modos diversos de se perceberem dentro dessa nova realidade, está ligada com novas formas das pessoas se olharem, com o trato do seu aparelho psíquico, e com a redefinição de suas instâncias identitárias na vida individual e coletiva, o que acreditamos trará uma grande contribuição para a compreensão da realidade social a partir de uma nova ótica.
Lidar com as questões bio-psíquicas dos indivíduos demanda sempre todo um trato diferenciado, e quando diz respeito às pessoas afetadas por uma doença como a AIDS, esse cuidado deverá ser redobrado. Isto porque, desde o seu aparecimento, a AIDS preocupou as pessoas em função de ser transmitida a partir de relações interpessoais e de que suas várias formas de diagnosticar o contágio trazem à tona questões da intimidade, o que deixa os seres humanos em situações conflitantes.
A AIDS se inscreve num período da vida social em que a intimidade passa por grandes transformações. A sua caracterização inicial de doença infecto-contagiosa, incurável, mortal, vinculada em primeira instância a homossexualidade, fez o seu aporte em muitos estigmas: pessoas que se decidiram por viver a vida e a sua sexualidade de modo alternativo, seriam castigadas com a morte por AIDS.
Desse modo, o peso social da AIDS é muito grande. Ela se afigura num fenômeno que se materializou no corpo das pessoas, e é esse um dos fatores que a diferencia das outras epidemias. Segundo Rouet (1996:16), “a SIDA, mais do que qualquer outra doença, tornou-se um fenômeno social muito importante; ela transtorna a escola, a empresa, a justiça, a igreja”. Fazendo um aporte na escrita do autor, acrescentamos que ela, também, flagrou o próprio portador na sua instância identitária, nos seus grupos de pertença, tais como, a família, a religião e o trabalho.
“Estar doente é ter passado por diversas etapas, é ser levado a passar por outras. Em primeiro lugar houve o anúncio da contaminação com o prognóstico, inevitável no atual estado de conhecimentos, de morte num prazo mais ou menos longo. Depois vem a fase de soropositividade sem sintomas, sem sinais físicos de doença, quando a pessoa acometida vive na expectativa ou na angústia de reorganizar seu modo de vida, durante alguns meses ou anos” (idem, ibdem).

Outro fenômeno é o de que ela põe as claras as práticas de vida, os modos como o imaginário social é construído, as expectativas quanto ao futuro, o medo da doença, da morte iminente, a certeza da finitude.
A condição de portador do HIV-AIDS parece ser a condição sine qua non para que busque outros modos para viver sua vida, redefinindo as relações com o tempo, reconstruindo as relações institucionais e afetivas, cotidianidade, as posturas em face de sua condição de gênero, a sua vida pessoal e profissional, ao seu status quo, e as questões ontológicas.
Na discussão desse assunto podemos tomar os trabalhos de Giddens (1992), que faz uma análise minuciosa e brilhante da sociedade moderna e das novas formas de expressão das relações afetivas. Questiona como se tem manifestado a sexualidade e que relações guardam com as mudanças gerais que têm afetado a vida pessoal dos indivíduos. Discute o papel da sexualidade, que chama de “sexualidade plástica”. Segundo ele, “a sexualidade plástica é a sexualidade descentralizada, liberta das necessidades de reprodução”. “A sexualidade plástica pode ser caracterizada como um traço da personalidade e, desse modo, está intrinsecamente vinculado ao eu” (GIDDENS, 1992:10).
As mudanças na intimidade que são marcantes e profundas passam a ser os indicadores para as novas formas de vida. Giddens diz que a história emocional das sociedades modernas é secreta, porém ela está prestes a ser desvelada completamente. Ele diz que “é uma história de buscas sexuais dos homens, mantidos separados de suas identidades públicas” (Idem: 11). Esse argumento do autor é bastante pertinente, e se funda exatamente no que estamos observando na contemporaneidade: o gênero masculino e feminino busca novas formas de negociações dos vínculos pessoais, em todos os aspectos da sua vida, partindo para o que o autor chama de “democratização do domínio interpessoal”, de modo que haja uma compatibilidade da vida nesse campo e no campo da esfera pública. A transformação da intimidade, ao que nos parece, vem forçando os campos sociais nas suas instituições de estruturas engessadas, no sentido de ganhar outras expressões, e as pessoas a buscarem uma redefinição de sua identidade. Havia uma intimidade velada, escondida, sufocada, desrespeitada. Com as mudanças sociais de caráter diversos na esfera pública, na economia e no trabalho, com a secularização da própria religião, a intimidade se ergue buscando que se admita também a sua transformação.
Nessa perspectiva, fluem com toda força questões latentes, subjacentes nos convívios interpessoais. As mulheres não admitem mais a dominação sexual masculina, os homens não conseguem digerir as novas opções de vida das mulheres, e outras formas alternativas de vida, que já existiam, são postas as claras. Dentro desse panorama, inscrevem-se os novos grupos sociais emergentes. São grupos de pessoas que têm um comportamento “desviante”, e que viviam no silêncio dos contextos sociais. Todavia, com a intimidade posta em evidência, mostrando que ela está sendo transformada, abre-se a possibilidade desses grupos se expressarem. Nesse parecer, inscrevem-se os homossexuais, um grupo que aparece com muita expressão organizativa, mostrando que a sexualidade é uma esfera privada, que o seu domínio é, portanto, do campo individual de cada ser humano, por isso é íntimo, é privado. Giddens ao abordar a discussão desse grupo diz que:
“as comunidades culturais gays que surgiram nas cidades americanas, assim como em muitas áreas urbanas da Europa, proporcionaram uma nova face pública para a homossexualidade”. “Em um nível mais pessoal, no entanto, o termo gay também trouxe com ele uma referência cada vez mais difundida à sexualidade como uma qualidade ou propriedade do eu” (Idem:24)
.
Sendo assim, na atualidade a sexualidade tem sido desnuda, revelada, sugerindo o desenvolvimento de estilos alternativos para sua expressão.
Tratar da discussão da sexualidade significa tratar dos modos como os seres humanos se percebem, se definem se identificam. Giddens ancora sua discussão da transformação da intimidade nos trabalhos de Foucault.
A análise que esse autor faz da sexualidade é uma análise histórica, partindo do século XVIII ao XX, onde ele pressupõe que se inicia a discussão aberta da sexualidade-, em que ele situa o surgimento do fenômeno da sexualidade como a expressão do poder disciplinar. Na sua discussão da sexualidade Foucault produziu um trabalho em que chama a atenção para o que ele denomina de “a hipótese repressiva” 2•, que aponta para o fato de que as instituições modernas, segundo ele, levaram as pessoas a pagarem preços pelos benefícios recebidos por parte dessas sociedades. Na análise foucaultiana da “hipótese repressiva” , o “poder disciplinar” emerge como o mecanismo que coage os indivíduos a reprimirem a sua sexualidade. Segundo Giddens, esse poder produzia supostamente “corpos dóceis”, controlados e regulados em suas atividades, em vez de espontaneamente capazes de atuar sobre os impulsos do desejo. Nesse sentido, o poder se expressa como um mecanismo de força repressiva.
Na discussão da sexualidade, nesse período entre o século XIX e o século XX, surge a psicanálise, ciência que se funda em bases teórico-metodológicas para analisar os indivíduos a partir das suas imagens subjacentes, sublinhando a importância das respostas instintivas que eram dadas pelas pessoas ao serem analisadas (LAPLANCHE E PONTALIS, 1986). Freud, ao iniciar o tratamento médicas das neuroses consideradas por ele como patologias do comportamento humano, deu grande contribuição à cultura moderna, com seus estudos sobre a sexualidade e a auto-identidade, num período, segundo Giddens, “ainda obscuro” na discussão dessa temática.
Para processar seus trabalhos, Freud criou o método dos sete conceitos fundamentais da psicanálise: conceitos de castração, falo narcisismo, sublimação, identificação, supereu e foroclusão.
Esses conceitos têm, ao longo do tempo, sido discutidos profundamente pelos profissionais da área da psicanálise e das outras ciências afins3. O estudo da psicanálise é muito profundo. Com ele, Freud vai até o ponto máximo das investigações dos processos inconscientes dos indivíduos, enfocando as instâncias identitárias dos mesmos, procurando avaliar em que momentos da vida os seres humanos romperam os seus laços de identificação com os seus genitores e criaram as suas identidades próprias, aportando a sua identificação a imagem materna, ou paterna, dependendo do seu sexo, até a formação da sua personalidade adulta.
Na sua abordagem, ele abre a discussão do complexo de Édipo que, segundo ele, é vivido na sua fase máxima entre os três e cinco anos de idade, no período da fase fálica, sendo de importância relevante na estruturação da personalidade, bem como na orientação do desejo humano.
Consideramos que não utilizaremos toda a teoria psicanalítica freudiana, para as discussões do nosso tema, mas sim, apenas alguns recortes complementares apostarão nossa discussão sobre identidade, mais especificamente, em outras interpretações que contemplam a priori a perspectiva da análise pretendida.
Sendo assim, passemos a abordagem do termo identidade. De antemão, cuidaremos de esclarecer que essa temática é por demais complexas, causando sempre certo desconforto aos estudiosos que dela se ocupam, aventurando-se a explicá-la. Tratar da identidade significa tratar do Eu, e tratar do Eu implica em tratar do Tu e do Eu - atividade relacional interativa. Nesse parecer, inexiste a singularidade absoluta do sujeito. Ou seja, o indivíduo somente se encontra a si mesmo, no seu cerne, em sintonia direta com outros indivíduos. Esta foi a base central do pensamento do psico-historiador Erik Erikon (1976)4 , que desenvolveu a expressão “crise de identidade” durante a segunda guerra mundial com pacientes que haviam “perdido o senso de igualdade pessoal e de continuidade histórica”.
Segundo definição do Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996), nas ciências sociais as discussões sobre a identidade assumem duas formas mais importante, a psicodinâmica e a sociológica. A primeira surge com a teoria de Freud sobre a identificação infantil com pessoas e objetos externos. A segunda está ligada ao interacionismo simbólico, se originando a partir da teoria pragmática do eu, discutida por James e Mead. Ambos discutiram a identidade na perspectiva interacionista do Eu consigo mesmo; o Eu interior, e depois com o social.
Na perspectiva dessa mesma explicação contamos com a abordagem de Erving Goffman (1975). Para este autor a representação do eu se dá na expectativa que o indivíduo cria para si mesmo sobre o modo como os outros irão percebê-lo, notá-lo compreendê-lo. Segundo Goffman, o indivíduo também cria expectativa quanto ao que ele espera dos indivíduos e os indivíduos esperam dele; “mantendo expressões e criando expectativas sobre si mesmas, mantendo impressões e criando expectativa sobre si mesmo, mantendo uma influência, que é recíproca, sobre os outros. No que se pode apreender disso é que os indivíduos se apresentam diante um do outro na tentativa de tanto incorporar, como demonstrar valores estabelecidos pela sociedade.
Este mesmo autor também reforça sua discussão sobre a questão da identidade no seu trabalho sobre estigmas, já citado por mim anteriormente, na parte que ele discute a questão do “Eu e Seu outro”. Goffman diz que: “O estigmatizado e o normal são partes um do outro; se alguém se pode mostrar vulnerável, outros também o podem. Porque ao imputar identidades aos indivíduos, desacreditáveis ou não, o conjunto social mais amplo e seus habitantes, de certa forma, se comprometeram, mostrando-se como tolos”. Cf. (Goffman, 1988: 146).
Sendo a identidade o referencial primordial qualificativo do indivíduo, visto que é a partir do seu reconhecimento que as pessoas se definem para interagir no meio social, e em instâncias antagônicas e diferenciadas na vida cotidiana, não possuir noções sobre a sua expressão é algo bastante inquietante para os indivíduos.
Em algum momento, em algum lugar, os seres humanos necessitam de se identificarem com alguém, ou com alguma coisa. Existem várias formas de expressão da identidade. Dentre tantas algumas se tornam mais significativas que outras, ao que nos parece ficando cada uma a critério da ação do próprio indivíduo no desenvolvimento dos seus papéis sociais.
Portanto, o conceito de identidade remete a idéia de construção do indivíduo, nas suas dimensões cognitivas de autopercepçao, bem como de suas dimensões inter-relacionais com outros indivíduos, e outras existências sociais.
Nesse parecer, a identidade se define em duas perspectivas diferentes, mas, que se interligam: identidade pessoal e identidade social. A identidade pessoal se constrói na autonomia física, no corpo, no biótipo, enquanto que a identidade social se constrói em função da condensação dos papéis sociais desenvolvidos pelo indivíduo nos contextos da sociedade.
Assim sendo, essas duas expressões da identidade: pessoal e social formam um conjunto contínuo, definidor do caráter dos indivíduos, visto que elas se complementam. No trato de uma representação da identidade que pode pessoal, ou social, o outro aparece de imediato, definindo assim, a similaridade de ambas.
Somos sabedores, de que existem muitas outras formas de representações da identidade: a de gênero, a nacional, a profissional, antropológica, sociológica, psicológica etc. Todavia, a identidade pessoal e a identidade social, são as únicas que definem o conjunto psicossocial dos indivíduos.
Contextualizando o nosso tema de pesquisa nessa discussão, quando pretendemos analisar a redefinição da identidade dos portadores do HIV-AIDS, no seu campo institucional-cultural e emocional, chegamos a constatação de que se faz significativo abordar a questão da identidade sob os dois prismas: social e pessoal, visto que, como já dissemos, eles coexistem na mesma intensidade, se diferenciando unicamente no exercício de papéis sociais e nas relações cotidianas.
Outro autor que analisa a questão da identidade, e que tomaremos no nosso referencial teórico é Christopher Lasch (1990). Segundo esse autor, a identidade possui um significado mutante. Os indivíduos são seres mutantes. Lasch vê nesse estado de mutação uma grande significação para as percepções mutantes tanto do eu, quanto do mundo exterior, ou o outro.
De acordo com Lasch: “o significado mutante de ‘identidade’ ilumina o vínculo entre as percepções mutantes do eu e as percepções mutantes do mundo exterior” (1990: 123). Nessa perspectiva se consolida a interligação entre as duas instâncias da identidade. Tratar de redefinição de identidade remete a discussão de crise de identidade, visto que o ato de redefinir implica em que houve conflitos, e incertezas em relação à identidade já definida. Pois, mesmo sendo mutante, estabelece definições.
Situando melhor a abordagem do conceito de crise, e agora na etimologia do tema, segundo o Novo Dicionário do Pensamento Social, já lançado posteriormente, “falamos “crise” em relação a sujeitos, a uma vida ou uma forma de vida, a um sistema ou uma “esfera” de ação. As crises decidem se uma coisa perdera ou não. O caso paradigmático de crise é a crise de vida, na qual, se levada ao extremo está se tratando de uma questão de vida ou morte”. A crise leva aos confrontos com as questões básicas: ser ou não ser, fazer ou não fazer, e nascem questões objetivas, mesmo, às vezes, o indivíduo não possuindo numa primeira instância, o conhecimento de onde ele se originou. Segundo Ott F. Bollnow (1974), a crise pode, e deve, ser o exterior, que são oriundos das transições das fases psicobiologicas, que não sofrem uma interferência da exterioridade, ou digamos, dos contextos sócio-políticos, nos quais o indivíduo está inserido. Ballnow diz que: “na crise, sempre se trata de um distúrbio no processo normal de vida; essa perturbação se destaca pelo caráter repentino do seu aparecimento e por sua intensidade fora do comum; na crise a continuidade de vida aparece totalmente ameaçada e pelo trânsito através da crise se estabelece por fim um novo estado de equilíbrio” (idem, 43). Ainda segundo Ballnow, a crise possui uma significação: ela é purificadora, onde o indivíduo procura livrar-se das impurezas e ressurgir novo, limpo, liberto; e é também uma decisão. O indivíduo deverá optar entre possibilidades, de modo que nessa opção ele recupere o equilíbrio biopsiquíco e se sinta restabelecido e pronto para retomar sua vida, visto que, na situação de crise ele pára as suas atividades. Entrar e sair da crise, segundo Ballnow, é um momento de êxodo e de êxito. É um novo despertar.
No que expomos até aqui, fica notório que a identidade está sempre em mutação, e que a mutação remete à crise.
No trato das nossas proposições de pesquisa, onde nos dispomos a investigar a redefinição da identidade dos portadores do HIV-Aids, que pressupomos, nas nossas sub hipótese, remetem a uma discussão de novas identidades, após a redefinição, e ao confronto com a rejeição e a exclusão social por parte das instituições formais: família, sexualidade, trabalho e religião; e a cultura dominante: valores ético-morais consideraram a discussão da identidade, tanto no contexto pessoal, quanto social, como fundamental para nossa abordagem teórica.
Tomando como referência que estes conceitos: identidade, redefinição de identidade, crise de identidade, não são definidos numa única perspectiva conceitual, recorremos aos autores já citados aqui: Freud, Goffman, Lasch e Ballnow, para darmos as explicações conceituais necessárias.
Nesse ponto encerramos nossa abordagem teórica, certa de que as lacunas, que sabemos existe, serão preenchidas, a contento, posteriormente.
Esta breve abordagem de temas tão contundentes e significativos à explicação dos processos sociais dos seres humanos, tratados a partir de autores como, Freud, Foucault, Giddens e Goffman, procura superar aquelas discussões acerca dos indivíduos definidos em função da dinâmica das sociedades globais tratados apenas como peças de uma engrenagem social, estruturada em bases formais, onde ele se perde por obedecer ao conjunto de normas e valores das culturas tradicionais, e se aventura a resgatar esse indivíduo, trazendo-o para a sua condição de sujeito humano, gestor e gerenciador dos seus desejos, arcando com as honerações, se houverem, mas vivendo sua autonomia.
Nesse parecer, abrimos a discussão quanto a um fenômeno cuja análise pressupõe, a nosso ver, este tipo de abordagem como a mais conveniente, corroborando e dando um maior significado à esse tipo de perspectiva. Trata-se dos estigmas da AIDS, que apontam para a necessidade de discutir questões relacionadas aos comportamentos sociais desviantes que foram se evidenciando ao longo do período de diagnosticação da doença, quando se apontou os grupos de risco como os responsáveis pela epidemia. A partir dessa primeira fase algumas questões essenciais foram levantadas: O que é? Como surgiu? Quem é o responsável? Quem são os afetados? E muitas outras. As primeiras representações que se construíram foram de negação: eu não tenho isso; eu não sou culpado por isso. No que se pode notar, perpassa um sentimento de “inocência” e de “medo” entre as pessoas que tentam encontrar respostas, jogando a responsabilidade por tal acontecimento nos outros. Joffe (1995), na sua pesquisa sobre as representações sociais transculturais da AIDS, intitulada: “Eu não”, “o meu grupo não”, se defronta com essa realidade da “negação do fenômeno” por parte das pessoas investigadas por ela: homossexuais, bissexuais, heterossexuais, que tentaram responsabilizar sempre “o outro” pelo surgimento da doença. Vejamos, nesta direção, o depoimento de um homem, negro, sul-africano, heterossexual:
“como eu ouvi dizer ela começou na Inglaterra... Ela começou entre um macaco e uma pessoa depois de uma relação sexual com o macaco... depois que ela teve relações sexuais com o macaco ela não se lavou e procurou a sua parceira. Então eles mantiveram relações. Então a parceira não se segurou, foi e teve relações com outro, e assim foi que ela se espalhou.” (JOFFE, 1995:308).

Segundo a pesquisa dessa autora, as pessoas estiveram sempre buscando culpados para esse fenômeno fora do seu contexto, e se punham distantes da possibilidade do seu envolvimento pessoal com a questão.
A AIDS foi sempre posta como uma realidade da qual todos se achavam distantes. No modo como ela foi notificada, o “direito” de pertencer a ela foi dado apenas aos “grupos de risco”. Apenas eles se encaixavam no perfil traçado pela equipe de médicos e pesquisadores da patogênese da AIDS. Sendo posta a distância de todos os que estavam fora desses “grupos de risco”, o questionamento de quem responderia por esse fenômeno tão sui generis, começou a aparecer. Todos foram veementes em dizer “eu não”, “o meu grupo não” (Cf. JOFFE, 1995). Segundo essa autora, não era dos negros, nem dos brancos, nem dos casados, nem dos solteiros, nem dos heterossexuais. Quem restou no cenário? as populações emergentes de comportamentos desviantes: os homossexuais (gays masculinos), as prostitutas, os viciados em droga. Pessoas promíscuas, culpadas. Foram sobre elas que se incidiu a responsabilidade. Um preço haveria de ser pago. No início da divulgação, a notícia da AIDS prescindia a iminência da morte. Esse seria o preço a ser pago (PAIVA, 1992).

METODOLOGIA E PROCEDIMENTO
A metodologia que utilizaremos no desenvolvimento de nossa pesquisa está articulada aos modelos e as técnicas indicadas para a análise qualitativa.
Um aspecto preponderante para a nossa escolha de análise é o fato desse modelo ser considerado no campo teórico metodológico, o que melhor convém as investigações ao âmbito da pesquisa em representações sociais, que tratam das vivências e influências dos indivíduos nos seus campos interativo-simbólico e imaginários.
Na discussão da pesquisa qualitativa, alguns autores têm proeminência: buscam provar que não somente os dados produzidos quantitativamente são significativos para a interpretação e validade dos dados levantados. As falas e as vivências, os modos de relacionamentos, os processos de interação social e simbólica, têm um grande significado no sentido de oferecer dados relevantes à compreensão dos indivíduos nas suas práticas cotidianas. O mínimo abstracional tem tanto valor quanto o racional.
Ao que nos parece, nessa forma de abordagem, se impõe um retorno ao período anterior ao racionalismo, senão, à uma tentativa de articulação das duas formas de análise. O que só beneficiará a produção do conhecimento científico.
Nosso argumento se sustenta em autores que, como já dissemos acima, desponta encampando essa luta. Faremos referência aqui a duas autoras, aqui no Brasil, que têm tratado da abordagem qualitativa com brilhantismo: Teresa Maria Frato Huguette (1995), e Maria Cecília de Souza Minayo (1996).
Huguette, no seu trabalho “Pesquisa Qualitativa em Sociologia” (1995), apresenta os fundamentos teóricos e técnicos de metodologias qualitativas na sociologia, criticando os métodos tradicionais, e propondo outros modelos alternativos de análise de dados. Esta autora, sugere as seguintes técnicas para coleta de dados: observação participante, histórias de vidas, pesquisa-ação, história oral, entrevistas com grupos.
São práticas de pesquisa que permitem uma melhor visão do indivíduo, no seu conjunto contextual social e biopsíquico. O que nós consideramos relevantes para as análises dos contextos sociais, a apreensão do mundo empírico e do mundo simbólico.
Faz-se notório que na abordagem temática, não há nenhuma atitude no sentido de desprestigiar, ou desqualificar outros modos de investigação, a exemplo do quantitativo. Até porque, o método quantitativo possui a sua validade intrínseca e relevante na produção de determinadas formas de aferir as realidades sociais, as quais só poderão ser mensuradas por ele. Todavia, o qualitativo, deve também, ser tomado como método de investigação e aferição, tão relevante quanto o quantitativo.
No centro da discussão de Huguette (1995), encontramos as explicações para determinados confrontos entre os modelos: empirismo e racionalismo. A disputa se centraliza no seguinte: quem possui melhor condição de garantir o domínio do real? A razão ou os sentidos?
Sendo este um campo de discussão polêmico e por isso estimulante, não temos condições de entrar nos seus meandros aqui, o que pretendemos retomar em outro momento. O que pretendemos por hora é apenas situar, pincelando, o eixo da discussão desse tema, visto do ponto de vista desta autora.
Outra abordagem sobre pesquisa qualitativa, que vem alcançando cada vez o reconhecimento nos meios acadêmicos é a da autora, já referida acima: Minayo (1996) “O Desafio do Conhecimento - pesquisa qualitativa em saúde”. Neste trabalho encontramos uma estimulante análise sobre os modelos, as técnicas, em pesquisa qualitativa no campo da pesquisa social em saúde. Minayo discute conceitos fundamentais na técnica da objetividade e da subjetividade, no campo da sociologia e da medicina. Analisa o momento de construção do objeto na fase exploratória da pesquisa, e também, aborda as várias modalidades de análises existentes: conceitos fundamentais na operacionalização da pesquisa, definição do objeto de pesquisa, construção de instrumentos de objetos, fases do trabalho de campo, modelos e técnicas de análise, etc.
No campo técnico-metodológico analisa as diversas modalidades existentes de análise qualitativa no trato do material pesquisado, sugerindo formas de fazê-lo com fundamentação numa prática hermenêutico-dialética.
Sem nenhuma pretensão, no sentido de tomar partido como defensora das duas autoras, mas reconhecendo o valor do trabalho de ambas, considerando nesse momento a superficialidade da nossa abordagem, dizemos que consideramos os trabalhos destas duas autoras de grande valia para aferição dos conteúdos empíricos, como forma de propostas para abrir o campo formal da pesquisa qualitativa, enriquecendo ainda mais a produção do conhecimento.
Sendo assim, com o intuito de encontrar métodos, técnicas e modelos adequados, para o tratamento teórico-metodológico da nossa pesquisa, buscaremos percorrer o caminho que melhor se nos apresenta, através da utilização da análise qualitativa, fundamentando nossos procedimentos nos autores apresentados: Huguette e Minayo, visto que elas apontam caminhos pertinentes às aferições de nossas proposições de pesquisa.
Procedimentos Operacionais
Diante da nossa temática, pretendemos conduzir a investigação em dois momentos:
a) No primeiro momento, tomaremos como referência da análise, os filmes - históricos e documentários - produzidos pela imprensa cinematográfica, procurando identificar nas representações dos atores situações similar à realidade vivida pelos portadores. São temas e discussões que pressupomos se materializarão na investigação do campo empírico do cotidiano dos indivíduos portadores do HIV-AIDS.
b) No segundo momento, trabalharemos diretamente com a população de portadores que estejam sendo atendidas nos ambulatórios de Doenças Sexualmente Transmissíveis dos hospitais: Correia Picanço e Hospital das Clínicas da UFPE, e no setor de Atendimento Psicológico da ONG ASAS (Associação de Ação Solidária), que atua com intervenção, através de uma equipe multiprofissional.
A população alvo constará de um universo amostral de 10 indivíduos portadores, que será localizada aleatoriamente, na faixa etária adulta, entendida moldes de PEA (População Economicamente Ativa), na RMR (Região Metropolitana do Recife). Esses atores serão selecionados nos critérios da voluntariedade, sem prerrogativas para alguns fatores, tais como: sexo, tipo de contágio e estágio da doença.
Procedimentos Técnicos
Será o da coleta de dados, através da utilização de entrevistas abertas e semi-estruturadas.
A análise dos dados será feita a partir da análise qualitativa definida nos moldes das autoras. Huguette (1995), e Minayo (1996), onde buscaremos tratar dos dados levantados, utilizando para tanto a técnica de análise de conteúdo.
Para a realização das entrevistas semi-estruturadas, onde os entrevistados falarão fluentemente sobre suas vivências, buscamos por meio de um roteiro de entrevistas previamente elaboradas, cristalizarem os indicadores das nossas variáveis, com a finalidade de responder o seguinte questionamento: como esses indivíduos se definiam antes da infecção? Como se definem agora, depois da doença? Como vêem a AIDS? O que é mais importante agora? O que pensam sobre o seu futuro? Como se percebem no presente? O que é mais importante na vida? Qual a interferência na sua vida afetiva? Qual a maior dificuldade encontrada depois dessa condição de portador?
CRONOGRAMA

Período: Mês e Ano

maio/junho de 1997












julho/agosto/setembro de 1997












janeiro/fevereiro de 1998

março de 1998


Tarefas

- Relação dos filmes que deverão ser tomados para análise na pesquisa.
- Levantamento da Bibliografia disponível referente ao assunto da pesquisa.
- Contatos com outras representações institucionais que trabalham na área do nosso assunto de pesquisa: Hospitais, ONG’s etc.
- Contatos com as coordenações dos locais onde pretendemos desenvolver a pesquisa.
- Contatos informais com os possíveis participantes da pesquisa (população alvo).
- Elaboração do roteiro das entrevistas.

- Início da pesquisa: realizando as entrevistas.
- Catalogação dos trechos dos filmes que serão analisados.
- Leitura e fichamento da bibliografia coletada.
- Transcrição, catalogação do material coletado nas entrevistas.
- Análise do material coletado nos filmes.
- Análise do material coletado nas entrevistas.
- Revisão final de todo o material coletado.

- Início da redação da dissertação.

- Final da redação.
-Revisão da redação.
- Entrega da dissertação para a defesa.








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIDS - O que é? Que Podemos Fazer? Jornal ABIA, Rio de Janeiro, junho, 1994:1-4.
BOLLNOW, O.F. Pedagogia e Filosofia da Existência. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1974
BROKEY, H. (Tradução Osvaldo Frota). Trajetória de uma Agonia. Jornal Folha de
São Paulo - Caderno Mais, novembro, 1994:2-7.
CHALMERS, A.F. O que é Ciência Afinal? São Paulo, Brasiliense, 1993.
CALLIGARES, C. A Encarnação do Desejo. Jornal Folha de São Paulo-Caderno
Mais, junho, 1995: 3-7.
CAMARGO, A. M.F. A AIDS na Sociedade Contemporânea - Estudos e Histórias de
Vida. São Paulo, Letras e Letras, 1994.
CAMARGO JR., K.R. As Ciências da AIDS e a AIDS das Ciências. O Discurso Médico
E a Construção da AIDS. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1994.
CARPZOV, A.R.L. Turismo e Identidade - Construção de identidades sociais no contexto do turismo sexual entre alemães e brasileiras na cidade do Recife., Dissertação de Mestrado em Antropologia na UFPE, 1994.
CARVALHO, J.C. Sexo/Pecado doença/Punição - A AIDS entre nós. Dissertação de mestrado em Antropologia na UFPE - Recife, 1995.
CASTORIADIS, C.A Instituição Imaginária da Sociedade. Rio de Janeiro, Paz
e Terra, 1995.
CZERESNIA, Dona, SANTOS, E.M. et alli. (Orgs). AIDS - Pesquisa Social e Educação.
Rio de Janeiro, Hucitec/Abrasco, 1995.
DANIEL, H. e PARKER, R. AIDS. A terceira epidemia - ensaios e tentativas. São
Paulo, Iglu Editora, 1990.
DEMO, P. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo, Atlas, 1995.
DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX. Zahar, Rio de Janeiro, 1996.
DIREITOS das Pessoas Vivendo com HIV e AIDS, Grupo pela Vidda: Apoio Fundação
Ford - Sociedade Viva Cazuza, Rio de Janeiro, 1985.
DUARTE, M.S.M. AIDS e Gênero na União Conjugal. A história das mulheres. Dissertação de mestrado em Serviço Social na UFPE, Recife, 1996.
ELIAS, N. La Soledad de los Moribundos. México, Fundo de Cultura Econômica,
1982.
__________. A Sociedade dos Indivíduos. São Paulo, Zahar, 1995.
ERIKSON, E. Identidade, Juventude e Crise. Brasiliense, São Paulo, 1972.
FARR, R.M. Representações Sociais: A Teoria e Sua História. In GUARESCHI, P. e
JOVCHELOVITCH, S. (Orgs.) Textos em Representação Social. Rio de Janeiro,
Vozes, 1995.
FIGUEIRA, S.A. Psicanálise e Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1980.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade - A vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal,
1985.
GIDDENS, A. A Transformação da Intimidade. São Paulo, UNESP, 1992.
GOFFMAN, E. A Representação do Eu na Vida Cotidiana. Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro 1975.
__________, E. Estigma - notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 1988.
GUARESCHI, P. e JOUCHELOVITCH, S. (Org.) Textos em Representações Sociais.
Rio Janeiro, Vozes, 1994.
HAGUETTE, T.M. Metodologia Qualitativa na Sociologia. Rio de Janeiro, Vozes, 1987.
HELLER, A. O Cotidiano e a História. Paz e Terra, São Paulo, 1992.
IMANISHI-ROGGE, A. e PEREIRA, R.R. Os Limites Práticos da Esperança. Revista
Veja novembro, 1996:98-103.
JOFFE, H. “Eu Não”, “Meu Grupo Não”. In GUARESCHI, P. e JOVCHELOVITCH,
S. (Orgs.) Textos em Representação Social. Rio de Janeiro, Vozes, 1995.
KNAUTH, D.R. A AIDS, Relações de Consangüinidade e de Aliança. ANPOCS, XX Encontro Anual GT 08 Família e Sociedade, 1996.
KUHN, T. A Tensão Essencial. Lisboa, Edições 70, 1989.
LAKATOS, E.M. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo, Atlas, 1996.
LAPLANCHE, J. E PONTALIS, B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins
Fontes, 1986.
LAPLANTINE, F. Antropologia da Doença. São Paulo, Martins Fontes, 1991.
LASCH, C. O Mínimo Eu - sobrevivência psíquica em tempos difíceis. Brasiliense São Paulo, 1990.
LEPARGNEUR, H. O Doente, a Doença e a Morte. São Paulo, Papirus, 1987.
MELLO FO, J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre, Artes Médicas, 1992.
MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento. Pesquisa Qualitativa em Saúde.
São Paulo - Rio de Janeiro, Hucitec-Abrasco, 1992.
MOSCOVICI, S. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
MOSCOVICI, S y HEWSTONE, M. De La Ciência al Sentido Comum. In MOSCOVICI,
S. (Org.) Psicologia Social. Barcelona, Paidos, 1988.
MOTA, M.P.da. Análise de Metodologia de Investigação: homossexualidade. In
CZERESNIA, D, SANTOS, E.M. et alli. (Orgs). AIDS - Pesquisa Social e
Educação. Rio de Janeiro, Hucitec/Abrasco, 1995.
NASIO, I.D. Lições Sobre os 7 Conceitos Cruciais da Psicanálise. Zahar, Rio de
Janeiro, 1996.
PAIVA, V. (Org.) Em Tempos de AIDS. São Paulo, Summus Editorial Ltda., 1992.
PARKER, R., BASTOS, C. GALVÃO, J., PEDROSA. J.S. (Org.). A AIDS no Brasil. Rio
De Janeiro, Relume Dumará, 1994.
PARKER, G.R. Corpos, Prazeres e Paixões. São Paulo, Best Seller, 1991.
PENNA, M. O que faz ser Nordestino - Identidades Sociais, Interesses e o “Escândalo” Erundina, Cortez, São Paulo, 1992.
PROGRAMA Nacional de Controle e Prevenção da AIDS - Ministério da Saúde 1988.
PROGRAMA Nacional de DST/AIDS. Ministério da Saúde - Brasil, 1994.
RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social - Métodos e Técnicas. São Paulo, Atlas, 1989.
ROUET, P. SIDA - A Sociedade em Questão. Rio de Janeiro, Vozes, 1996.
SÁ, C.P. Núcleo Central das Representações Sociais. Rio de Janeiro, Vozes, 1996.
SÁ, CP Representações Sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In SPINK, M.
J. O Conhecimento no Cotidiano. São Paulo, Brasiliense, 1995.
SCHUCH, P. AIDS e Sexualidade entre Universitários Solteiros de Porto Alegre: Um
Estudo antropológico. ANPOCS, XX Encontro Anual, GT14 - Pessoa, Corpo e
Doença, Caxambu, 1996.
SILVA, S.L. O Espelho do Reconhecimento: Representação Social e Identidade no
Movimento Social. Recife, PIMES/UFPE, Projeto de Pesquisa, 1996 (mimeo).
SILVA, E. Em Questão/AIDS: A Doença Maldita. Jornal do Brasil, janeiro, 1987:6-7.
SONTAG, S. A Doença como Metáfora. Rio de Janeiro, Graal, 1984.
__________. AIDS e suas Metáforas. Rio de Janeiro, Graal, 1989.
SOUZA FILHO, E.A.de. Análise de Representações Sociais. In SPINK, M.J. (Org.) O
Conhecimento no Cotidiano. São Paulo, Brasiliense, 1995.
SOUZA, O. Reflexão sobre a Extensão dos Conceitos e da Prática Psicanalítica. In
ARAGÃO, L.T., CALLIGARIS, C., COSTA, J.F., SOUZA, O. Clínica do Social.
São Paulo Escuta, 1991.
SPINK, M.J. (Org.) O Conhecimento no Cotidiano. São Paulo, Brasiliense, 1995.
SULLIVAN, A. Praticamente Normal: uma discussão sobre o homossexualismo. São
Paulo, Companhia das Letras, 1996.
TÄHKÄ, U. O Relacionamento Médico-Paciente. Porto Alegre, Artes Médicas, 1986.
TORAINE, A. Em Defesa da Sociologia - a identidade social e os movimentos sociais, Zahar, Rio de Janeiro, 1976.
TRIVIÑOS, A.N. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo, Atlas, 1987.
WAGNER, W. Descrição, Explicação e Método na Pesquisa das Representações Sociais.
In GUARESCHI, P. e JOVCHELOVITCH, S. (OGs.) Textos em Representação
Social. Rio de Janeiro, Vozes, 1995.

Nenhum comentário:

Postar um comentário